Essena O'Neill é uma adolescente australiana. Tal como outros jovens, as redes sociais e o parecer bem e bonita sempre foram muito importantes. Essena fez tão bem esse trabalho que começou a ter centenas e depois milhares de seguidores no Instagram. O sucesso trouxe-lhe contratos com agências de modelo, designers de moda, empresas para publicidade. A felicidade extrema para qualquer adolescente. Ou talvez não. Essena bateu com a porta às redes sociais. Fartou-se de alimentar uma imagem que deixou de reconhecer como sua, e agora editou os comentários de fotografias que partilhou para mostrar que elas não representam a vida real. E pede a outros que façam o mesmo.

Esta terça-feira, o nome de Essena está por todo lado mas não pelas razões que até aqui a colocavam entre as celebridades no mundo do Instagram. Loura, bonita, com um corpo perfeito, vestida com roupas de sonho, a australiana disse “chega”.

Numa das fotografias partilhadas na rede social, onde aparece de biquíni, alterou o comentário inicial. “E outra foto tirada apenas para promover o meu corpo de 16 anos. Esta era toda a minha identidade. Era tão limitado. Fazia-me incrivelmente insegura. Não têm ideia”. Numa outra imagem, onde posa com um enorme sorriso acompanhado por um enorme colar, fez o mesmo. “Por favor gostem desta foto. Pus maquilhagem, enrolei o meu cabelo, vesti um vestido justo, usei joalharia muito desconfortável… Foram precisas 50 fotos até chegar a uma que pensei que vocês gostassem, depois editei a selfie durante muito tempo com várias apps, apenas para que tivesse alguma aprovação social da vossa parte. Não há nada real nisto”.

Com mais de 785 mil seguidores no Instagram, Essena, de 19 anos, resolveu fechar o seu mundo online ao fútil. Criou uma página – www.letsbegamechangers.com – onde explica como viveu enquanto celebridade na rede social, o dinheiro que ganhou com contratos e por que decidiu abandonar este estilo de vida. “Descobri-me afogada na ilusão. As redes sociais não são reais”, escreve no site, acrescentando que se trata de “um sistema baseado na aprovação social, do gosta e não gosta, da validação com base nas visualizações, no sucesso junto dos seguidores... é um julgamento perfeitamente orquestrado”. “E isso tem-me consumido”.

No passado dia 27 de Outubro apagou mais de 2000 fotografias que, segundo a própria, “tinham apenas como propósito real a auto-promoção”, e editou os comentários feitos em perto de 90 imagens que deixou visíveis na sua conta no Instagram, onde agora entram mensagens de contestação aos comportamentos nas redes sociais.

Na primeira foto que publicou no Instagram, Essena reescreveu o comentário que tinha feito e relembrou a forma obsessiva com que consultou a sua conta para ver que aceitação a imagem tinha tido online. “Tive cinco ‘gosto’. Isto era quanto queria desesperadamente validação da rede social”. Actualmente, a fotografia tem mais de 4400 “gosto” e mais de 600 comentários.

No Facebook, Essena criou a página Essena O'neill: Lets be Game Changers.com, deixando de existir o seu antigo perfil. Em simultâneo, há páginas de apoio ao movimento inciado pela jovem a serem criadas, mas outras pedem para que regresse ao que fazia antes e que volte e publicar no Instagram.

Durante anos, Essena explica que só queria agradar aos outros. “Tornei-me numa máquina que dava aos outros o que queriam de mim, sem saber ou valorizando que eu era. Estava perdida em expectativas, pressões e desejo de ser aceite. Estava assustada. Pensei ‘se os outros não gostarem de mim, então não tenho qualquer valor no mundo”. Agora, a jovem diz que não procura a aceitação, nem julgamentos de terceiros. “Não quero mais seguidores. Quero um mundo de seres individuais”. “Aos que procuram a luz [verdadeira felicidade], nunca a vão encontrar em aprovações sociais, porque isso é uma ilusão baseada em ideias e emoções artificiais”, acrescenta a jovem.

No seu site, Essena começou a publicar no passado dia 31 de Outubro vídeos com os seus argumentos para virar costas às redes sociais. Os vídeos têm centenas de comentários, muitos menos do que as suas antigas fotografias no Instagram, mas a australiana não podia estar mais feliz. “Estou apenas agradecida a pensar em quantos homens e mulheres jovens podem ver este movimento e parar de limitar-se a ideias artificiais de felicidade online”. 

Aos que começam a ter contacto com o seu novo “eu”, a jovem pede que abandonem as redes sociais e recomenda a leitura de O Poder do Agora, de Eckhart Tolle.