Diga-me como estou a governar

A retirada de circulação de notas quase sem aviso prévio lançou a Índia no caos. O primeiro-ministro, Narendra Modi, utilizou uma app para pedir a opinião dos indianos, mas estes só podem responder que concordam com a medida.

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Imagine que está a conduzir o seu automóvel e vê um camião a ziguezaguear. Felizmente, há uma placa no veículo com o contacto da empresa e a seguinte pergunta: como estou a conduzir? Agora imagine que telefonava para o número e que apenas podia escolher uma de duas respostas: o motorista está a conduzir “bem” ou “muito bem”.

É o que está a acontecer na Índia. Este mês, o Governo indiano anunciou, da noite para o dia, a retirada de circulação das notas de 500 e de mil rupias, 86% do total, mergulhando a nação no caos. Dezenas de pessoas morreram em incidentes relacionados com a corrida aos bancos e com a recusa de assistência médica a quem não dispunha de notas válidas para pagar.

O Executivo justifica a decisão com o combate à evasão fiscal e à lavagem de dinheiro. Dentro e fora da Índia, os analistas não contestam tanto as razões de Nova Deli como criticam a forma desastrosa com que a medida foi implementada.

Com a opinião pública a atacar Narendra Modi, o primeiro-ministro dirigiu-se terça-feira à nação e pediu aos indianos que respondessem a um inquérito na sua app. A aplicação móvel subiu de imediato ao primeiro lugar mundial na loja do iOS e ao 18.º na loja da Google para o Android. Só que o inquérito tornou-se num novo motivo de frustração para a população. A afirmações como “a desmonetização vai aumentar o acesso do cidadão comum ao imobiliário, ensino superior e saúde”, os cidadãos só podem responder que concordam “completamente”, “parcialmente”, ou que não sabem. Não é possível discordar. E Modi reivindica agora um apoio superior a 90% à retirada das notas.

Entretanto, as filas nos bancos mantêm-se e inspiram outras apps como a BookMyChotu, que permite contratar um funcionário para ocupar um lugar à porta da agência durante oito horas.

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