Apple ameaçou expulsar Uber da loja de aplicações por monitorização de iPhones

O truque servia para combater fraudes de alguns motoristas. A história tem dois anos, mas só agora é revelada e junta-se a uma série de casos protagonizados pela Uber desde o início do ano.

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A Uber defende a infracção, explicando que ajuda a combater o uso fraudulento da aplicação em alguns países Reuters/TYRONE SIU

Em 2015, a Uber recebeu um ultimato da Apple: a empresa será expulsa da loja de aplicações store (e perderá os clientes com iPhones) se não parar de monitorizar – ilegalmente – a informação e localização dos dispositivos da Apple.

O aviso foi feito, em pessoa, pelo próprio Tim Cook. Só agora, dois anos depois, é desvendado, num artigo do New York Times que junta mais uma controvérsia aos problemas de imagem que a Uber tem vindo a acumular. Desde o começo de 2017, que a aplicação de partilha de viagens soma escândalos consecutivos: da tentativa de boicote às manifestações contra o decreto presidencial que proibia a entrada de cidadãos de alguns países muçulmanos nos EUA, às denúncias de assédio sexual por antigas trabalhadoras, até a um vídeo em que Kalanick é visto a atacar verbalmente um motorista, e ainda denúncias de roubo de patentes.

A notícia do antigo aviso por parte da Apple vem mostrar que as políticas ariscadas da Uber – que levaram a empresa a expandir até mais de 70 países desde o inicio da actividade em 2008 – não são de agora, e que outras empresas têm consciência disso. Incluindo a Apple.

O caso levou Tim Cook a convidar Kalanick para uma conversa na sede da empresa, na Califórnia, EUA. “Ouvi dizer que tens estado a quebrar algumas das nossas regras”, terá dito Cook em 2015. Referia-se à política de privacidade que a Apple tinha implementado três anos antes para impedir os programadores de aplicações de aceder à informação dos utilizadores de iPhones através da identificação única do dispositivo (UDID).

A Uber ignorou a mudança e os engenheiros da Uber terão codificado a aplicação com um identificador persistente – conhecido como “fingerprint” – que lhes permitia monitorizar os aparelhos, mesmo sem o consentimento da Apple. A modificação foi programada para que qualquer utilizador que a abrisse na sede da Apple não conseguisse detectar o código ilegal. Esqueceram-se, porém, de que a Apple tem vários outros escritórios que podiam desvendar o truque da Uber.

Kalanick terá respeitado o ultimato, mas a história veio reacender a controvérsia sobre a forma como a Uber utiliza os dados dos seus utilizadores.

A aplicação de viagens defende-se: o truque não servia para enganar os utilizadores, mas para combater o uso fraudulento da aplicação por alguns condutores do serviço. Em países como a China, alguns condutores da Uber têm o hábito de criar várias contas em iPhones roubados (ao instalar e desinstalar a aplicação repetidamente), para aumentar o número de viagens feitas e assim receber mais dinheiro. A monitorização permite que a criação de contas novas por dispositivos previamente associados a fraudes (por exemplo, roubo ou criação de múltiplas contas num curto espaço de tempo) seja automaticamente detectada.

“Certamente não monitorizamos utilizadores individuais, ou a sua localização, se apagaram a aplicação,” diz um porta-voz da Uber em declarações recentes ao site de tecnologia TechCrunch. “Técnicas semelhantes são utilizadas para detectar e bloquear acessos suspeitos a contas da Uber de modo a proteger os nossos utilizadores”. A empresa acrescenta que a prática de combate à fraude não parou, mas foi adaptada para para respeitar a política de privacidade da Apple. 

No começo de Março, Travis Kalanick, terá reconhecido os problemas recentes da Uber num comunicado onde promete corrigir a situação: "As críticas que recebemos são um aviso claro de que tenho de mudar como líder e crescer." 

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