Afinal, as pessoas são muito más a avaliar a magnitude do problema das notícias falsas

Mas há muitas razões por que o Facebook e o Google são obrigados a agir.

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Ilustração de L.M. Glakens, "The Yellow Press" (1910), via The Public Domain Review

É difícil manter-se a par do fluxo crescente de notícias e dados sobre as notícias falsas, a desinformação, o conteúdo parcial e a literacia sobre as notícias. Este é um resumo que apresenta os destaques das histórias que pode ter perdido na última semana.

“Algo que o Facebook nunca fez: ignorar os “gostos” e os “não gostos” dos seus utilizadores”. Gostei muito deste ensaio recente no Buzzfeed, Donald Trump and America’s National Nervous Breakdown: Unlocking your phone these days is a nightmare” (“Donald Trump e o esgotamento nervoso nacional da América: Hoje em dia, desbloquear o telemóvel é um pesadelo”), em que Katherine Miller escreve: “Há tanto ruído discordante que só decifrar todas as informações individuais e segui-las ao longo do ciclo de notícias exige um esforço enorme. É difícil decidir o que fazer a seguir.”

Pensei neste texto enquanto estava a tentar decidir como fazer a cobertura dos "zilhões" de pequenos anúncios e iniciativas que o Facebook está a lançar para monitorizar as notícias falsas: é difícil não lhes perder a conta, recordar quais são totalmente novos e quais são apenas pequenos incrementos e reconhecer quais deles representam, de facto, mudanças nas posições anteriores da empresa.

Farhad Manjoo acompanhou algumas destas mudanças na história de capa da New York Times Magazine no final de Abril, Can Facebook Fix its Own Worst Bug?” (“Será que o Facebook consegue reparar o seu pior bug?”), para a qual entrevistou várias vezes Mark Zuckerberg. Diz o texto:

Na última quinta-feira de Abril, o Facebook divulgou um documento em que delineava algumas das novas formas que a empresa usou para [expandir] o "foco de segurança para lá do comportamento abusivo tradicional, como o hacking de contas, o malware, o spam e as fraudes financeiras, de forma a incluir formas mais subtis e insidiosas de uso indevido, incluindo tentativas de manipular o discurso cívico e de enganar as pessoas”. Um dos aspectos em que o documento se centra é a “amplificação falsa”.

“As contas de amplificação falsa manifestam-se de forma diferente em todo o mundo e nas regiões”, escrevem os autores. Mas, “no longo prazo, estas redes e contas inautênticas podem abafar histórias válidas e até dissuadir as pessoas de qualquer tipo de participação”. Entre outras coisas, isto pode incluir “a criação de contas falsas, por vezes em massa”; “reacções ou “gostos” coordenados” e isto é coordenado por pessoas reais, afirma o Facebook – não por bots.

Os autores afirmam que o alcance das tentativas de amplificação falsa durante as eleições de 2016 foi “estatisticamente muito reduzido, em comparação com o nível geral de participação em assuntos políticos”. Também referem que tomaram medidas contra mais de 30 mil contas falsas em França. (Há mais sobre o Facebook e as eleições francesas aqui).

“As pessoas ficaram em estado de choque.” O Project Owl da Google, que foi anunciado na semana passada, pretende retirar conteúdos ofensivos e/ou falsos dos sistemas AutoComplete e Featured Snippets. Danny Sullivan, da Search Engine Land.

As pesquisas problemáticas constituem apenas uma pequena parte do fluxo de pesquisas geral do Google, mas trazem muita publicidade negativa à empresa. “Parece um problema pequeno”, disse Pandu Nayak, funcionário do Google, a Sullivan. “As pessoas [no Google] ficaram em estado de choque [com a publicidade negativa]… Era um problema significativo que, suponho, não tínhamos valorizado anteriormente.”

Leia também a reportagem de Sullivan do início de Abril: A deep look at Google’s biggest-ever search quality crisis (Um olhar aprofundado sobre a maior crise de qualidade das buscas de sempre do Google). (Entretanto, Klint Finley, da Wired, pergunta-se se o Google devia sequer estar a tentar fornecer “uma única reposta correcta”.)

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Já que falamos de níveis “significativos”… Uma sondagem da Harvard Kennedy School Institute of Politics feita a 2654 americanos de idades compreendidas entre os 18 e os 29 anos descobriu que, em média, estes acreditavam que uns espantosos 48,5% das notícias no seu feed do Facebook eram falsas. E também que “os republicanos acreditam que há mais fake news (56%) no seu feed, em comparação com os democratas (42%) e os independentes (51%)”.

Isto é uma loucura. Voltando ao texto de Farhad Majnoo no início desta publicação: o Facebook acredita que a percentagem de notícias falsas do seu feed de notícias é “1%”. Mas, voltando a Miller, no BuzzFeed: “Tentar orientar-se sob pressão – determinar a verdade no meio das complexidades de protocolos, regulações, legislação, ideologia, fontes anónimas, relatos contraditórios, negações, declarações públicas, os tweets dele [Trump] – é demasiado. Não podemos viver assim!”

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Tradução: Rita Monteiro

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