A (falta de) etiqueta digital

Sou um utilizador ávido da internet e das plataformas electrónicas, mas a agressividade com que essas plataformas exigem a minha atenção e que tome uma decisão, literalmente apoquenta-me, e diminui a minha qualidade de vida e, julgo, de muita gente.

Não, não quero anúncios digitais da última notícia do site, por conseguinte, bloquear anúncio do site A, do site B, do site C, etc… Não, por favor fechar a publicidade que bloqueia a notícia que pretendo ler, ou o vídeo que pretendo ver. Ooops, não encontro ou não acerto com o “X” para fechar a janela. Lá vem o anúncio indesejado. Fechar janela. Voltar atrás. Premir finalmente o “X”. Não, não quero saber da política de cookies da Google, nem da política de cookies do site A, B, ou C. Aceito o disclaimer que, inteligentemente, não gastei tempo a ler. Sim, já li o disclaimer, com periodicidade quase mensal, do Google Chrome sobre a sua política de privacidade para descobrir que no fim, afinal, verdadeiramente não tenho alternativas e é melhor dizer que sim sem ler o disclaimer. Não, não quero fazer agora mais um update do Java, do Chrome, do Windows, do anti-virus ou outro qualquer programa. Não, por favor não fazer o reboot automático do Windows agora. Sim, por favor conceda-me pelo menos mais uma hora. Não compreendo como se produz software de tão má qualidade que tem de estar a ser actualizado “quase todos os dias”. E se tivéssemos carros que nos dissessem que só poderiam “andar” se fossem à oficina primeiro para um check-up? Isso seria aceitável?

Não, não me quero inscrever em mais nenhum site, não quero ter de definir mais logins ou passwords, não quero ter de disponibilizar os meus dados pessoais mais uma vez. Não, não me quero inscrever no Facebook para conhecer o menu do restaurante que lá tem a sua página. Não, não respondo a pedidos de contacto do Linkedin, mesmo que sejam de bons amigos. Não, não quero que o Google guarde as minhas passwords secretas. Não, é melhor não saber que acabei de receber um e-mail ou mensagem porque isso me deixa mensagem-ó-dependente.

Parece quase uma corrida de estafetas em que no visor aparecem constantemente “banners” (placares) a tapar tudo o resto e a exigir a nossa atenção. E, por conseguinte, é necessário estar, não só compenetrado naquilo que pretendemos fazer, ler ou escrever, é necessário também que o nosso subconsciente reaja a todas essas ofensas, comandando as nossas mãos a fechar ou afastar para baixo, para cima, para a esquerda ou para a direita, os anúncios, sem perder a concentração e sem deixar que esse lixo digital nos faça perder o fôlego.

Não consigo permanecer completamente imune às inúmeras intromissões, por diferentes meios. A experiência, ao fim de umas horas, sobrecarrega e desgasta. Mas não me compreendam mal. A internet é um meio fantástico, do qual não abdico.

Por isso, instalei um bloqueador de anúncios no meu browser, para ser surpreendido com mais um banner que me informa ameaçadoramente no centro do ecrã que tenho um bloqueador de anúncios instalado e me obriga a esperar uns segundos. Pelos vistos, sobretudo meios de comunicação social como o Bild ou a Bloomberg, desenvolveram os seus bloqueadores de bloqueadores de anúncios. Confuso?  Certo é que os jornais dependem muito de receitas de publicidade.

Em consequência sou, em teoria, favorável à nova proposta europeia de regras de privacidade que procuram limitar o grau de intrusão dessas aplicações nas nossas vidas. Mas essas novas regras europeias infelizmente tornariam legais os bloqueadores de bloqueadores de anúncios utilizados, estima-se, por mais de 200 milhões de pessoas…

 

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