Vítima de gangue diz que ameaçaram queimar-lhe filhos “como se fossem ratos”

Suspeitos de tráfico de pessoas começaram a ser julgados. Principal arguida assume condição de carteirista, mas nega ter posto compatriotas romenos a roubar para si e para o marido.

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Julgamento do gangue começou esta segunda-feira Diogo Baptista

Uma mulher que terá sido vítima de tráfico de pessoas em Portugal contou esta segunda-feira em tribunal como foi ameaçada por um gangue de compatriotas romenos suspeito de a obrigar a furtar carteiras a turistas em Lisboa: “Disseram-me que se não desistisse da queixa que tinha apresentado contra eles na polícia pegavam fogo à minha casa, para que os meus filhos ardessem como ratos”.

Segundo a acusação do Ministério Público, os alegados líderes da organização criminosa que agora começaram a ser julgados no Campus da Justiça, em Lisboa, traziam para Portugal outros cidadãos romenos que depois punham a roubar carteiras para si, reagindo com ameaças e violência quando eles tentavam mudar de vida ou estabelecer-se por conta própria. Mas aquele que é apontado pelos investigadores como o principal líder do grupo conseguiu fugir por uma janela quando a polícia lhe entrou pelo primeiro andar onde morava com a mulher, Diana, na zona das Olaias. É ela quem enfrenta agora a barra do tribunal, juntamente com um segundo suspeito.

A mulher a quem terão ameaçado queimar os filhos veio para Portugal em 2014 e não nega ter sido espancada duas ou três vezes pelos suspeitos nesse ano, a ponto de ter de receber tratamento hospitalar. Mas a versão dos factos que contou esta segunda-feira em tribunal difere muito do relato que fez às autoridades há dois anos: agora assegura que furtava carteiras por conta própria, quando na altura das agressões afirmou que havia sido espancada por se recusar a entregar ao casal metade do que roubava e que morava numa pensão onde havia outras 30 pessoas nas mesmas circunstâncias.

A diferença pode estar nos diferentes graus de gravidade dos crimes por que respondem os arguidos: a pena pelo crime de agressões é menos grave do que aquelas que punem a associação criminosa e o tráfico de pessoas, de que os arguidos também estão acusados. Depois de ameaçada acabou por retirar a queixa, e a disparidade entre o depoimento que prestou quando o caso estava ainda sob investigação e aquele que prestou agora é tão grande que o Ministério Público decidiu processá-la, por falsas declarações. Diana, que além de assumir a sua condição de carteirista diz trabalhar também em limpezas, foi peremptória quando lhe perguntaram em tribunal se alguma vez a mulher tinha trabalhado sob as suas ordens: “Nunca”.

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