Venham mais dez mil

Os tempos estão hoje difíceis para a imprensa, mas o PÚBLICO foi dez mil vezes um jornal no qual confiei.

A ciência e a técnica mudaram o mundo recentemente ao proporcionar a possibilidade de comunicação global, maciça e praticamente instantânea. Tal permite que cada pessoa, em vez de mero consumidor de informação, seja também produtor dela. A Babel está instalada: cada um diz, a quem o queira ouvir, o que bem entende. Todos falam, mas quase ninguém ouve. 

A imprensa tem-se adaptado às novas realidades tecnológicas. Mas, dada a aparente gratuitidade da informação na Internet, os leitores têm deixado de comprar jornais em papel, cujos conteúdos estão pelo menos em parte livremente à disposição nos ecrãs. Está ainda por descobrir um modelo de negócio que garanta a sustentabilidade da imprensa no mundo digital.  Não sei qual é o modelo, mas sei que é vital a sobrevivência dos jornais de referência. No actual balbúrdia dos “factos alternativos” e da “pós-verdade” eles são mais do que nunca necessários. Só a mediação que o bom jornalismo sabe dar pode gerar confiança. A imprensa de referência provou ao longo dos anos que desempenha um papel insubstituível no bom funcionamento das sociedades democráticas. Em particular, tem permitido aos cidadãos formarem a sua opinião, fazerem as suas escolhas e defenderem-se dos poderes instituídos.

Os tempos estão hoje difíceis para a imprensa, mas o PÚBLICO foi dez mil vezes um jornal no qual confiei. Desejo que, mudando o que tiver a mudar, continue a ser o jornal no qual confie nas próximas dez mil edições.

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