Um ministro com a faca apontada ao pescoço

Nesta fase pós-troika e pré-discussão orçamental, o Ministério da Saúde está a ser confrontado com várias grevas e ameaças de greve. Adalberto Campos Fernandes é um ministro acossado

A troika foi embora, o Governo fez as reversões que entendeu fazer, mas as consequências do plano de ajustamento ainda não se pulverizaram no sector da Saúde. Os dois sindicatos que representam os médicos lançaram o mote em Maio, cansados das “belas palavras e música celestial” do ministro Adalberto Campos Fernandes. Os clínicos fizeram greve durante dois dias para convencer a tutela a reduzir de 200 para 150 horas anuais o tempo de trabalho extraordinário a que estão sujeitos, a baixar de 18 para 12 as horas semanais de serviço nas urgências e de 1900 para 1550 o número de utentes por médicos de família. A troika tinha imposto estes objectivos, o Governo tinha-se comprometido a revê-los, mas ficou tudo na mesma. E há uma nova ameaça de greve no horizonte, aproveitando as autárquicas.

Um auto-intitulado movimento de enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica ameaça parar o funcionamento de 28 blocos de partos e o internamento de grávidas de alto risco a partir de segunda-feira e por tempo indeterminado. Contam com o apoio de dois dos três sindicatos do sector, da Ordem dos Enfermeiros, e reclamam melhor remuneração. O Governo duvida da legalidade dos protestos, no que é secundado pela Ordem dos Médicos, e o acossado ministro exclama que “não é ao meio do ano, de repente, que se encosta uma faca ao pescoço de qualquer governante”. Como se isso não bastasse, os técnicos superiores de saúde das áreas de diagnóstico e terapêutica iniciaram na quinta-feira uma greve por tempo indeterminado porque simplesmente não têm carreira e se encontram à espera da aprovação de um diploma que a vai criar.

A troika teve várias implicações no sector da Saúde. E uma delas foi o incentivo à emigração: 3500 médicos saíram do país nos últimos quatro a cinco anos. Por isso, a contestação não se vai limitar a mais salário e a menos horas de trabalho. A Ordem dos Médicos deu o mote nesta sexta-feira: para cumprir o rácio de médicos por habitante, segundo padrões internacionais, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) carece de quatro a cinco mil clínicos especialistas. Nesta fase pós-troika e pré-discussão orçamental, não parece provável que o Ministério das Finanças embarque, a “meio do ano, de repente”, nesta onda que promete avassalar o Verão do SNS. É verdade, o ministro tem uma faca encostada ao pescoço.

Sugerir correcção
Comentar