Um dia na vida de quem gere seis hospitais em Lisboa

Ana Escoval é presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central. Num dia típico, a economista de 65 anos precisa de desdobrar-se entre seis hospitais diferentes.

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8h

Videovigilância obsoleta

Antes da primeira reunião, no Hospital Dona Estefânia, Ana Escoval enviou um email ao gabinete do ministro da Saúde com os dados das últimas 24 horas do serviço de urgência. Um novo email actualizado terá de seguir às 18h. Na Estefânia, a reunião é sobre a videovigilância do Centro Hospitalar de Lisboa Central, que dirige, e que precisa de ser actualizada e unificada. “Há uma proposta para criar uma central de segurança a funcionar no Hospital S. José”, explica, reforçando que não podem adiar até haver um novo hospital. No final, é feita uma visita à urgência pediátrica renovada, com os profissionais a lembrarem que ficou a faltar um serviço de observações com mais camas. O próximo destino é o S. José, mas logo aqui começam os problemas da dispersão do centro hospital por seis unidades em Lisboa. O motorista percebe mal a informação e vai ter a outro hospital. Para não se perder tempo, grande parte do percurso é feito a pé, até o motorista aparecer a meio do caminho.

9h30

Da nutrição à hepatite A

A chegada ao S. José e a subida da escadaria antiga é já feita com pressa. Pelo caminho há sempre recados e solicitações. Mas Ana Escoval segue directa para uma reunião com a Ordem dos Nutricionistas, com o objectivo de perceberem como pode o centro aproveitar melhor o momento do internamento para fazer um diagnóstico das necessidades dos doentes e dar continuidade a esse trabalho com uma ligação aos centros de saúde. À saída, a presidente recebe as últimas orientações sobre os procedimentos no caso da hepatite A, visto que o centro foi escolhido para fornecer alguns dos tratamentos.

11h30

Uma avaria de 40 mil euros

Ana Escoval percebe que não terá tempo para ir a uma reunião ao Hospital de Santo António dos Capuchos. Recebe entretanto outra “péssima notícia”. A directora do serviço de anestesiologia, Isabel Fragata, informa que se avariou um ventilador na Estefânia. “Isto significa um bloco operatório parado”, explica Escoval. Estes aparelhos podem custar 40 mil euros. Mas agora é hora de uma reunião com a Academia Científica dos Enfermeiros, uma associação sedeada no S. José e que pretende fomentar a investigação nestes grupos profissionais. Dos 7600 funcionários de todo o centro, a administradora diz que já há 900 ligados à investigação.

12h30

O momento da burocracia

É o momento burocrático do dia, em que se assinam vários ofícios para admissão de recursos humanos e equipamento. É feita também uma circular para alertar os funcionários para as limitações de circulação nos Capuchos, com uma visita do Presidente da República ao Museu da Saúde, naquele espaço. No final, Ana Escoval visita o espaço da urgência e do bloco operatório, dois locais que quer renovar este ano – mas cuja intervenção é difícil uma vez que terão de continuar a funcionar. No bloco, os médicos e enfermeiros presentes congratulam-se com a obra prometida há vários anos e aproveitam para pedir melhorias na qualidade de material básico. As toucas que usam são tão finas que se rasgam e obrigam a gastar mais.

13h30

Uma passagem pela capela e um mini prato

Antes do almoço, Ana Escoval passa na capela do hospital do S. José. É religiosa, mas pouco praticante. Com esta paragem pretende duas coisas: aproveitar alguns minutos de silêncio e mostrar o “riquíssimo” património do centro, difícil de preservar. “Ninguém nos paga a história e estes locais geram despesa”, diz. O almoço é um mini prato na cantina, ao mesmo tempo que conversa com um antigo colaborador que quer regressar ao hospital e que tem agora formação na área da administração hospitalar, pelo que querem repensar as funções.

14h

Obras e o simulacro da visita do Papa

A equipa de engenharia e de arquitectura traz boas novidades. Os profissionais de outro hospital do centro, o Curry Cabral, deram luz-verde às mudanças para juntar em áreas próximas a gastroenterologia e a cirurgia, assim como alguma resposta em termos de exames. Mais complicado está o planeamento da remodelação das urgências e bloco operatório de S. José. “Estou preocupada porque são obras longas e que interferem com tudo. É preciso libertar salas e ir fazendo a obra por etapas. Se calhar vamos ter de reactivar as salas operatórias do Hospital de S. Lázaro”, admite a administradora, rindo-se com a ideia de passar a ter sete hospitais. Pelo meio é avisada de que o centro terá de participar em dois simulacros relacionados com a visita do Papa a Fátima.

15h30

Conter a despesa com medicamentos

Esta é a reunião mais dura, também no S. José. Está presente o director clínico e responsável pela comissão de farmácia e terapêutica, António de Sousa Guerreiro, e o responsável pela oncologia médica e a comissão oncológica, Ricardo da Luz. A presidente fala numa “verdadeira quadratura do círculo”: dar medicamentos inovadores sem aumentar a despesa. A ideia é definir protocolos e perceber a escolha de alguns fármacos em detrimento de outros. Ricardo da Luz justifica, por exemplo, um aumento de 218% na despesa com um medicamento para o cancro da próstata, lembrando que durante vários anos houve uma política de atrasar a chegada destes medicamentos – pelo que se sentem agora na factura. Por outro lado, os doentes vivem mais tempo. O oncologista alerta também que estão a receber poucos doentes da área da ginecologia, sugerindo que talvez fosse bom assumirem que não faz sentido continuar a ter esta área. “Custa sempre perder uma área, mas é melhor apostarmos no que sabemos mesmo fazer”, reconhece Escoval.

16h30

Formar futuros gestores

A actividade docente foi bastante reduzida desde que foi nomeada. Mas Ana Escoval manteve algumas das aulas que dá na Escola Nacional de Saúde Pública. Desta vez coordenou um seminário do Mestrado em Gestão da Saúde, para o qual convidou dois oradores do sector privado que descreveram as últimas apostas tecnológicas que estão a fazer. Aqui o dia termina às 20h, mas em casa ainda há emails para responder e reuniões para preparar.

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