Tribunal arquiva processo de burla milionária por erros do Ministério Público

O Tribunal de Braga entendeu que houve um "atropelo grosseiro" à lei pelo facto de o MP ter substituído a acusação inicial por outra.

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Tribunal de Braga ordenou arquivamento dos autos contra dirigentes da associação PME Portugal Barbara Raquel Moreira

O Tribunal de Braga ordenou nesta quarta-feira o arquivamento do processo em que três antigos dirigentes da associação PME Portugal eram acusados de fraude de milhões, considerando que se verificou um "atropelo grosseiro" de princípios legais por parte do Ministério Público.

Em causa está o facto de o Ministério Público (MP) ter formulado uma primeira acusação, em Janeiro de 2014, e de posteriormente a ter anulado, substituindo-a por outra datada de Fevereiro de 2015. "O MP não podia declarar nula a primeira acusação, substituindo-a por outra", referiu o juiz presidente do colectivo, considerando que essa actuação configura uma "subversão do quadro legal do processo penal".

Para o tribunal, o MP cometeu "um atropelo grosseiro" dos princípios do processo justo e da igualdade de armas e "violou claramente" o princípio da irretratabilidade da acusação. Assim, o tribunal declarou a inexistência jurídica da segunda acusação e a nulidade da primeira, neste caso por ser apenas uma "longa descrição" dos meios de prova e uma "referência genérica" aos factos, "sem concretização" dos actos praticados.

Perante isto, o colectivo de juízes declarou "extinto" o procedimento criminal e o consequente arquivamento dos autos. "Este processo termina por aqui, pelo menos por agora", referiu o juiz presidente, numa alusão à possibilidade de recurso por parte do MP.

Em causa está um processo em que três antigos dirigentes da associação PME Portugal, com sede em Braga, eram acusados de fraude na obtenção de subsídio, relacionados com cursos de formação profissional financiados pelo Fundo Social Europeu. Na primeira acusação, o MP apontava para uma fraude num valor que ascendia a mais de sete milhões de euros, enquanto na segunda o montante se ficava pelos 4,5 milhões. Os subsídios foram obtidos em 2004 e 2005.

Entretanto, antigos funcionários da PME Portugal denunciaram a alegada fraude e, em 2008, a Polícia Judiciária desencadeou uma investigação àquela associação e a várias empresas a ela ligadas. A investigação, que durou cinco anos, incluiu cerca de meia centena de buscas. Dos três arguidos, só um compareceu em tribunal. Os outros dois são um casal, que entretanto se ausentou para o Brasil.

Com a decisão desta quarta-feira, cessaram também as medidas de coacção impostas aos arguidos.

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