Três anos volvidos, o que ganhámos com a criação da Universidade de Lisboa?

A fusão permitiu transferir recursos para o ensino e para a investigação e também atrair maiores patrocínios.

A fusão entre a Universidade Clássica e a Universidade Técnica de Lisboa configurou um dos acontecimentos de maior relevância no sistema de ensino superior em Portugal, nos últimos anos.

Os resultados deste acontecimento só poderão ser avaliados num horizonte de mais de uma década, em função do sucesso profissional que tiverem os nossos atuais estudantes e do impacto da nossa investigação.

As consequências imediatas da criação da Universidade de Lisboa decorrem da conjugação de dois fatores interdependentes, economia de escala e economia de complementaridade, ambos resultantes das opções estratégicas de uma Universidade que tem como pilares a investigação e a abrangência de saberes e áreas de formação.

Com a alteração de dimensão, a Universidade de Lisboa adquiriu um capital acrescido para a realização dos seus objetivos, uma posição de vanguarda no contexto nacional e ibero-americano e um maior relevo no contexto europeu e mundial. Em termos europeus, a Universidade de Lisboa pode comparar-se à maioria das universidades de cidades capitais da Europa, em número de estudantes e na produção científica, ficando, geralmente, abaixo delas em termos de dotações orçamentais e de recursos humanos disponíveis.

O posicionamento da Universidade de Lisboa nos principais rankings mundiais, ganhou uma importância acrescida. No ranking de Xangai, a Universidade de Lisboa subiu para a posição 201 a nível mundial, enquanto que nenhuma das anteriores ultrapassava a posição 370. No que se refere à classificação académica ibero-americana de produção científica, no ranking SCImago, a Universidade de Lisboa passou a ocupar, em 2014, o segundo lugar (antes da fusão, as anteriores universidades ocupavam as posições 14ª e 26ª). A universidade que lidera ambos os rankings é a Universidade de Harvard que tem sensivelmente metade dos estudantes da Universidade de Lisboa, o dobro dos recursos humanos e dez vezes o nosso orçamento.

A fusão permitiu transferir recursos para o ensino e para a investigação, em resultado da reorganização dos Serviços Centrais da Reitoria, fruto do efeito de escala, e também da atração de maiores patrocínios. Esta redistribuição permitiu a contratação e o consequente pagamento anual dos salários de 80 novos professores em início de carreira. Esta foi a forma de enfrentar um dos problemas mais graves que aflige as principais universidades portuguesas, o envelhecimento do seu corpo docente, decorrente de anos sucessivos de suborçamentação e consequente incapacidade de contratação de novos professores.

Na mesma linha de ação foi lançado, pela Universidade, um programa anual de Bolsas de Doutoramento e de Bolsas de Apoio ao Doutoramento que visou atribuir mais de 150 bolsas em todas as áreas do conhecimento. Desta forma a Universidade procurou minimizar o impacto das opções políticas que reduziram drasticamente o apoio à formação pós-graduada e à investigação científica nos últimos anos. Foi possível ainda passar a atribuir, anualmente, prémios científicos a docentes ou investigadores da Universidade, em todas as grandes áreas de conhecimento.

Foram criados Colégios visando a formação de espaços não orgânicos de desenvolvimento de investigação científica, de inovação tecnológica e de ensino, que agregam docentes e investigadores de diferentes Escolas e Unidades de Investigação.

Foi também implementado um novo modelo organizacional em Redes, para o estabelecimento de parcerias com sectores estratégicos, promovendo uma articulação harmoniosa entre as políticas cultural e científica da Universidade de Lisboa e os objetivos estratégicos de desenvolvimento das empresas e demais parceiros. Destacam-se as redes temáticas interdisciplinares nas áreas do agro-alimentar e floresta, da saúde, do mar, da mobilidade urbana inteligente e do empreendedorismo e transferência de conhecimento.

A criação da Universidade de Lisboa permitiu a integração do Estádio Universitário, um espaço único de desporto e lazer, no centro da cidade; do Instituto de Investigação Científica e Tropical, a instituição nacional de referência no que concerne ao saber e património tropicais; do Pavilhão de Portugal, um edifício icónico no panorama contemporâneo da arquitetura portuguesa, que será adaptado a centro de congressos, com auditórios, espaço de conferências, centro de exposições permanentes, biblioteca e restaurante; e de parte do espaço antigamente ocupado pelo Governo Civil no Convento de São Francisco, agora transferido para a Faculdade de Belas Artes.

Procedeu-se à reorganização e requalificação dos espaços existentes, entre estes destaca-se o Complexo Interdisciplinar, que agora permite a incubação de empresas geradas no seio da Universidade e alberga centros de investigação. Adaptou-se o edifício do antigo Caleidoscópio, no Campo Grande, que será a partir do início do próximo ano letivo um espaço de estudos aberto a toda a comunidade académica da Cidade de Lisboa. Nos próximos meses iniciaremos a construção de uma residência de estudantes no Campus da Ajuda e outra na Cidade Universitária.

Foi, ainda, criada a Imprensa da Universidade de Lisboa, visando a publicação de originais em todos os domínios do saber, textos clássicos fundamentais e volumes resultantes de projetos singulares.

Três anos volvidos, a Universidade de Lisboa foi já capaz de mostrar o sentido das suas opções estratégicas e criar as condições para que os próximos anos lhe permitam responder à sua vocação de uma Universidade de Lisboa para o Mundo.

Reitor da Universidade de Lisboa

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