Matemática: alunos portugueses do 4.º ano passam à frente dos finlandeses

Portugal foi o país que mais progrediu nos resultados a Matemática entre 1995 e 2015. Consegue a 13.ª posição. Mas os resultados do TIMSS mostram que é também um dos mais desiguais na diferença de resultados por género. Rapazes estão à frente.

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Resultados dos alunos portugueses subiram a Matemática e desceram a Ciências ADRIANO MIRANDA

Portugal ficou à frente da Finlândia nos resultados obtidos pelos alunos do 4.º ano nos testes internacionais de Matemática promovidos pela International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA), uma cooperativa constituída por organizações públicas e privadas. Este feito foi alcançado em 2015 na sexta edição dos testes que visam avaliar a literacia dos alunos mais novos a Matemática e Ciências, que são conhecidos pela sigla TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study).  

Estes testes realizam-se de quatro em quatro anos. Por comparação a 2011, a média obtida por Portugal a Matemática subiu nove pontos, estando agora na 13.ª posição de um ranking que lista 49 países e regiões, dois lugares acima do que foi alcançado há quatro anos.

Já a Ciências (Estudo do Meio no currículo português), pelo contrário, registou-se “uma descida significativa”: menos 14 pontos de média e descida da 19.ª posição para a 32ª.

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No prefácio à edição portuguesa do TIMSS, que é divulgada publicamente nesta terça-feira em conjunto com o relatório internacional, o presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), responsável pela aplicação nacional destes testes, destaca entre as virtudes deste estudo o facto de ele permitir que se conheça, a cada quatro anos, “com que amplitude se alterou a qualidade do desempenho dos alunos em Matemática e Ciências, no final do 4.º ano de escolaridade”. 

No que respeita a Matemática, a aposta na disciplina feita pelo anterior ministro Nuno Crato parece ter dado resultados. Como também se verificou com o Plano de Acção para a Matemática desenvolvido antes por Maria de Lurdes Rodrigues, que apostou sobretudo na formação de professores e que se traduziu neste salto: entre 1995 e 2011, Portugal subiu 90 pontos na média alcançada no TIMSS.

Mais de quatro mil alunos portugueses

Os alunos portugueses só participaram em três edições destes testes – 1995, 2011 e 2015. A média na escala do TIMSS, que vai de 0 a 1000, é de 500 pontos. Na 1.ª edição conseguiram uma pontuação média de 442 pontos. Em 2011 o país subiu para 532. E em 2015 para 541.  Portugal foi, aliás, o que registou a maior progressão a Matemática entre 1995 e 2015 no conjunto dos países que participaram nestes dois estudos.

Também a Ciências, o resultado médio dos alunos portugueses subiu 70 pontos entre 1995 e 2011, passando de uma média de 452 pontos para 522. Em 2015, pelo contrário, registou-se uma quebra de 14 pontos na média obtida por Portugal (508) por comparação à alcançada em 2011 (522).

As médias alcançadas a Ciências são, em geral, menos elevadas do que as registadas a Matemática, mas ao contrário de Portugal a maioria dos países participantes conseguiu aumentos significativos por comparação a 2011.

À semelhança do que tem sucedido nos testes PISA realizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que visam avaliar a literacia dos jovens com 15 anos, também no TIMSS os lugares cimeiros a Matemática são ocupados por países ou regiões da Ásia (Singapura, Hong Kong, República da Coreia, Japão e Taipé).

Singapura, República da Coreia, Japão e Hong Kong estão igualmente entre os cinco com melhores desempenhos a Ciências, mas neste top restrito figura ainda a Federação Russa.

Entre os que apresentam subidas mais significativas a Matemática, por comparação com 2011, figuram o Dubai, a Espanha e a Croácia. Na situação inversa, com descidas mais acentuadas, estão a Finlândia, a Holanda e a Alemanha.

A Ciências, no grupo dos que conseguiram ficar acima da média do TIMSS, destacam-se pela positiva o Cazaquistão, o Dubai e Hong Kong. Já as descidas mais acentuadas por comparação a 2011 foram protagonizadas pela Arábia Saudita, Irão e Kuwait. 

56 países e regiões

No TIMSS de 2015 estiveram envolvidos mais de 300.000 alunos de 56 países e regiões. Em Portugal participaram 4693, de 217 escolas (198 do ensino público e 19 do ensino particular). Em 2011 tinham participaram neste estudo 4042 alunos de 147 escolas. E em 1995 estiveram envolvidos 143 estabelecimentos de ensino e 2853 alunos.

Por comparação à edição de 2011, e no que toca à Matemática, Portugal aumentou a percentagem de alunos nos níveis de desempenho mais elevados e reduziu a proporção e alunos nos níveis mais baixo. No TIMSS existem quatro níveis de desempenho: avançado (igual ou superior a 625 pontos), elevado (550 a 625), intermédio (475 a 550) e baixo (400 a 476). No que respeita à pontuação média, Portugal situa-se no nível intermédio.

Ainda numa análise por níveis de desempenho, os resultados a Ciências são o inverso dos registados a Matemática: houve uma redução da percentagem de alunos nos níveis de desempenho mais elevados comparativamente a 2011, enquanto nos mais baixos a proporção de alunos se manteve sem alterações. Quanto à média, Portugal também se situa, como na Matemática, no nível intermédio.

Diferença entre géneros acentuou-se

Para além da descida dos resultados a Ciências, os resultados do TIMSS dão conta de outra má notícia: a Matemática, Portugal é, não só, um dos países mais desiguais quando se olha para o desempenho dos alunos por género, como acentuou esta diferença em cinco pontos por comparação a 2011.

Nesta disciplina, a diferença de resultados a favor dos rapazes é de 11 pontos, o que o leva a figurar entre os cinco países com uma maior distância de desempenhos. A Itália, com 20 pontos de diferença, encabeça este pelotão.

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Exemplo de exercício que os alunos têm para fazer nestes testes dr

Dos 49 países que participaram nos testes do 4.º ano de Matemática, em 18 os rapazes estão à frente, sendo a diferença média de nove pontos; em 23 não se registam diferenças e em oito são as raparigas que têm melhores resultados. Neste último caso destacam-se, entre outros, Arábia Saudita, Omã e Kuwait.

A Ciências, a média dos rapazes portugueses é superior em sete pontos à obtida pelas raparigas. Os rapazes estão à frente em 11 países, sendo a distância média de oito pontos; em 25 países os resultados deles e delas são idênticos e em 11 as raparigas estão à frente, destacando-se uma vez mais os países do Médio Oriente. Na Arábia Saudita a diferença entre rapazes e raparigas é de 79 pontos a favor delas. A Matemática esta distância é de 43 pontos.

Mais fracos no raciocínio

Números, formas geométricas e medida, e apresentação de dados são os conteúdos propostos nos testes de Matemática. As Ciências englobam as Ciências da Vida, Ciências Físicas e Ciências da Terra. Quanto às competências testadas agrupam-se em três domínios: conhecer (factos, conceitos e procedimentos que o aluno deve saber), aplicar (capacidade de aplicar os conhecimentos na resolução de problemas ou na resposta a questões) e raciocinar (contextos complexos e problemas que requerem vários passos até que seja encontrada um solução)

Na Matemática, os alunos portugueses tiveram melhores resultados na apresentação de dados (ler e fazer gráficos) e piores nas formas geométricas e medidas. Em matéria de domínios avaliados, saíram-se melhor no que testa os conhecimentos e pior no que apela ao raciocínio, que é também o mais fraco a Ciências. Esta é também uma tendência que se tem verificado na avaliação externa feita em Portugal (exames e provas de aferição), com os alunos a saírem-se melhor em tudo o que respeita a gráficos e pior na resolução de problemas.

A nível internacional, o TIMSS também foi aplicado ao 8.º ano de escolaridade, embora Portugal tenha optado por não participar neste nível. Mais uma vez, na liderança do ranking dos desempenhos dos alunos com 13 anos, tanto a Matemática como a Ciências, estão países ou regiões da Ásia.

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