Temos de ajudar

Sabemos quem são os salvadores: são os bombeiros. Não se arranjem desculpas para não os ajudar a salvar as nossas vidas e as nossas casas.

Na sala de espera para a consulta de ottorino está sentada uma mulher e um homem mais velho que nada ouve. “É seu pai?”, pergunta alguém. “Não”, explica a senhora, “é meu vizinho. Mas se eu não viesse com ele, ele não vinha...” Resignada, responde com a verdade mais bonita da nossa língua: “Temos de nos ajudar uns aos outros, não é?”

A bondade espanta sempre. Como deve ter reparado nas caras comovidas de todos nós, logo acrescentou: “Um dia sou eu que deixo de ouvir e sou eu a precisar que alguém me leve...”

Tentou passar por egoísta. A diferença de idades entre ele, alegre e ingrato, e ela, preocupada e impaciente, era, pelo menos, 30 anos. Ela tinha 50 e tal, ele tinha 80 e picos. Ou seja: a pessoa que viria a devolver o favor, quando ela chegasse aos 80 anos, teria, naquele momento, 20 e poucos anos.

Três horas depois vimos os dois à espera de autocarro. O otorrino — o sábio, empático e eficientíssimo Pedro Henriques — aspirou a cera dos ouvidos do senhor, levando-o a exclamar, para que todos ouvíssemos: “Nunca ouvi tão bem na minha vida!” A senhora que o tinha ajudado perdeu uma tarde inteira, mas o senhor que ela ajudou ganhou a audição, porque aceitou a ajuda.

As vítimas e os heróis dos incêndios de Agosto não só aceitaram como pediram. Sabemos quem são os salvadores: são os bombeiros. Não se arranjem desculpas para não os ajudar a salvar as nossas vidas e as nossas casas. Sabemos que é complicado. Mas ajudar quem nos ajuda é simples, graças a eles.

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