“Sou português, sou luxemburguês”

João Paulo Carvalho, ou Jean-Paul como é conhecido no Luxemburgo, é segunda geração de emigrantes no Grão-Ducado e um arquitecto com sucesso cujo atelier também ajuda portugueses a resolver problemas com habitação.

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Este arquitecto português de 46 anos – Jean-Paul Carvalho, como é conhecido no Luxemburgo – é o exemplo típico da segunda geração de emigrantes portugueses no Grão-Ducado. Embora tenha nascido em Portugal, veio com três anos e fez todo o percurso escolar neste país. O pai trabalhava nas obras, a mãe nas limpezas, mas desde cedo fizeram questão de dar a melhor educação possível aos dois filhos e de os integrar em instituições luxemburguesas. Hoje é um arquitecto de sucesso e o seu atelier é muito mais do que um estabelecimento comercial.

“Quando era pequeno havia muito estigma sobre portugueses, italianos e espanhóis que demorou muito tempo a esbater-se, mas nunca me senti excluído porque estava muito bem integrado. Só nos últimos cinco a dez anos é que isso começou a mudar.

Foi graças à segunda geração, a que hoje está na casa dos 30 anos. Quando começaram a levar os namorados a Portugal, ficaram surpreendidos e impressionados com a modernidade do país, a arquitectura, as artes, a abertura. Hoje já há muitos que vão de férias, porque o país tem muito para oferecer - um amigo meu, francês, vai com a filha aprender surf.

Eu todos os anos levo os meus filhos e procuro dar-lhes coisas diferentes: museus, planetário, oceanário, Portugal dos Pequenitos. Agora já são eles que pedem para ir. Gostam muito.

Com a crise recente veio também uma nova geração para o Luxemburgo, muito qualificada, que deu outra imagem do país. Médicos, arquitectos, dentistas, engenheiros mecânicos e informáticos… Era bom que se pudesse criar uma ponte na área das tecnologias entre os dois países, há know-how para isso.

Eu criei um atelier de arquitectura e design de interiores que também tem um objectivo social. Ajudamos os portugueses com menos informação a resolver problemas ligados à habitação. Se uma pessoa quer fazer obras em casa, por exemplo, e não sabe como lidar com as autarquias, nós ajudamos. Não fazemos por eles, que isso não resolve nada, mas ensinamos a fazer.

Queremos ajudar a fazer pontes entre as várias comunidades portuguesas no Luxemburgo. Por exemplo, agora estamos a desenhar o interior de um snack-bar onde queremos instalar material de som e vídeo que faça uma aproximação cultural à programação da Philharmonie.

A vinda do Presidente da República é importante e não só pelo valor simbólico. Há sempre coisas concretas que resultam, mas nós aqui temos de trabalhar pela integração, temos de mostrar a nossa cultura e ensinar as nossas crianças a pensar de forma mais aberta, sem fronteiras mentais.

O embaixador é um elemento fundamental nesta aproximação, ele é uma pessoa muita activa, com muita energia, promove eventos com actividades culturais de um nível mais elevado para aproximar os portugueses.

Se eu penso voltar para Portugal? Desde pequenino que penso [voltar]. Irei assim que tiver uma oportunidade, ou possibilidades para o fazer. Se puder usar as minhas capacidades em Portugal, uso. Mas sinto-me bem aqui nesta minha dupla condição: sou português, mas também sou luxemburguês."

A fotografia neste Primeira Pessoa é uma Cortesia Ricardo Vaz Palma 

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