Sexualidade de prata

Conhecer as alterações físicas subjacentes ao processo de envelhecimento normal, aceitá-las e adaptar-se é o caminho a tomar para melhorar ou manter uma sexualidade ativa e, acima de tudo, satisfatória

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A sexualidade apresenta-se como uma necessidade humana básica de afeto e de pertença, natural à vida das pessoas, independentemente da idade, da condição física ou mental. Não falamos apenas do ato sexual em si, mas também do desfrutar do prazer do contacto corporal, da comunicação, da segurança emocional e do sentir-se amado.

A expressão e intensidade da sexualidade nas idades mais avançadas depende, em grande parte, da forma como a pessoa a experienciou ao longo da vida. E, como tal, do modo como se foi adaptando às alterações físicas e psicológicas inerentes ao envelhecimento, assim como aos aspetos sociais e culturais em que se insere. As normas e expectativas da sociedade são talvez as que mais influenciam as atitudes e comportamentos das pessoas mais velhas quanto à forma como vivem a sua sexualidade. As pessoas adultas e idosas de hoje viveram sob uma repressão sexual, assente numa educação sexofóbica (sexo enquanto tabu) e numa ideologia que limita a sexualidade e onde predominam ideias erradas e atitudes negativas sobre “ser velho” e a “sexualidade na velhice”. Este contexto pode condicionar o comportamento da pessoa, originando um desinteresse e redução da atividade sexual e, por conseguinte, uma insatisfação sexual.

Algumas doenças interferem diretamente no modo como a pessoa experiencia a sexualidade (ex. problemas de incontinência ou da próstata). Mas são também os medicamentos (ex. ansiolíticos, anti-hipertensores) que exercem grande influência, por exemplo, ao nível do desejo e desempenho sexuais. Os problemas de saúde podem constituir uma barreira à vivência plena da sexualidade, mas não impedem nem impossibilitam a exploração de formas alternativas de expressar afetos e de viver a sua intimidade sexual.

Conhecer as alterações físicas subjacentes ao processo de envelhecimento normal, aceitá-las e adaptar-se é o caminho a tomar para melhorar ou manter uma sexualidade ativa e, acima de tudo, satisfatória.

A necessidade de intimidade e de estar emocionalmente bem acompanha-nos durante toda a vida. Não obstante, por vezes, com o passar dos anos, o desejo e o ímpeto sexual, a motivação para fazer e aceitar o novo e o diferente vai diminuindo, podendo tornar-se numa relação monótona e “aborrecida”. Cabe ao casal, a si, contrariar esta tendência. 

A comunicação é a chave para o sucesso da sua relação. Converse abertamente sobre os seus desejos, dificuldades e expectativas. Ouça e compreenda o seu companheiro/a.

A identidade, o papel de género, a capacidade de enamoramento e afeto, a capacidade de intimidade e compromisso, de dar e receber prazer, não têm porque diminuir na velhice, podendo, em muitos casos, até melhorar! Assim, ainda que com o avançar da idade a frequência das relações sexuais possa diminuir, o interesse e a capacidade de viver uma sexualidade satisfatória mantêm-se, adaptando-se através de diversas formas de expressão.

A autora segue as normas do Acordo Ortográfico. A rubrica Estar Bem é publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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