Nove búlgaros escravizados durante meses em Trás-os-Montes

Suspeito de recrutar e escravizar nove pessoas tinha residência em Carrazeda de Ansiães, mas também era búlgaro. Vítimas trabalhariam 17 horas por dia, sem folgas.

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dro daniel rocha 11 marco 2014 - portugal, lisboa - inauguracao da nova sede da policia judiciaria PJ daniel rocha

Nove cidadãos búlgaros terão sido escravizados entre Abril e Junho passado, em Trás-os-Montes, segundo um comunicado divulgado esta terça-feira pela Polícia Judiciária, que libertou sete deles depois de dois terem conseguido fugir. As vítimas, entre as quais se inclui uma rapariga de 14 anos, seriam obrigadas a trabalhar 17 horas por dia, sem direito a folgas, nem salário. 

Tinham sido recrutadas na Bulgária, com a promessa de boas condições de trabalho, que incluíam alojamento, alimentação e deslocações. A maioria eram trabalhadores indiferenciados sem emprego certo que vinham à procura de melhores condições de vida. Por vezes em família, como é o caso de um casal que veio com a filha de 14 anos. Mas quando chegaram a Portugal tiraram-lhes os passaportes e a restante documentação, tendo sido levados para uma cave em Carrazeda de Ansiães. Era aí, num espaço aberto e sem casa de banho, que dormiram durante os três meses.   

“[Eram] forçadas a trabalhar contra a sua vontade, sob ameaça, violência física e psicológica, sendo coagidas a laborar numerosas horas diariamente (das 5h às 22h), sem folgas e sem salário”, refere a nota da Directoria do Norte da Judiciária.

Durante o dia as vítimas faziam trabalhos agrícolas, como apanhar cerejas, em diferentes quintas na região de Trás-os-Montes, cujos responsáveis desconheceriam a situação em que se encontravam. “Eram pessoas sem documentos, que não falavam português nem outra língua além do búlgaro, que se viram num ambiente completamente estranho”, enfatiza uma fonte ligada ao processo.

A investigação do caso começou com a fuga de duas das vítimas, que em Junho conseguiram escapar da cave e denunciaram a situação às autoridades - que montaram uma operação que permitiu resgatar outras sete pessoas e identificou um búlgaro de 29 anos como presumível autor do tráfico de pessoas para exploração laboral.      

Quando a polícia o tentou localizar, o suspeito já tinha fugido para a Bulgária, onde acabou por ser detido este mês. “Em concertação de esforços com as autoridades policiais estrangeiras, foram cumpridos mandados de detenção europeus emitidos no âmbito do inquérito, sendo aquele suspeito detido no seu país de origem já no decurso do corrente mês”, adianta a PJ.

O suspeito foi então extraditado para Portugal, tendo sido ouvido no final da semana passada por um juiz de instrução do Tribunal de Vila Flor, que determinou que deverá ficar a aguardar o desenrolar do processo em prisão preventiva.  

As vítimas já regressaram à Bulgária, tendo antes de voltarem prestado depoimentos para memória futura no âmbito desta investigação. 

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