Sejamos crianças

Quanto mais velhos ficamos mais precisamos das novidades.

A melhor maneira de regressar à infância – para não dizer, deprimentemente, a única – é a ignorância. É colocarmo-nos numa situação em que alguém nos ensina qualquer coisa acerca da qual não sabíamos nada.

A ignorância de cada um de nós é felizmente (e sem vírgulas) infinita. Ser criança é saber secretamente que não se sabe nada. Ser adulto é tentar disfarçar a mesmíssima coisa.

Só podemos aprender quando somos suficientemente inteligentes e curiosos (a palavra moralista, arrogante e escusada é “humildes”) para reconhecer que somos, acima de tudo, defeituosos. Mas cada sessão de aprendizagen traz sempre o prazer, excitantemente autêntico, de começar do zero.

O contrário de ser criança é ficar um fóssil: uma impressão de uma vida há muito acabada que teve a sorte de ficar imprimida numa substância estúpida mas muito mais duradoura.

Quanto mais velhos ficamos mais precisamos das novidades. E a maior novidade de todas é a nossa ignorância. Eu, por exemplo, sou um analfabeto científico. A minha própria designação – “analfabeto científico” – demonstra, com ênfase na parte monstruosa, que nada sei sobre a ciência.

Dito isto, acho que a consolação que os cientistas vão buscar às artes é paternalista e fácil. É um passatempo. É um divertimento. Mas têm razão.

A ciência não é menos consoladora. Os artistas, habituados a sofrer em geral, têm também de aprender a sofrer especificamente, enfrentando as ignorâncias e tornando-as em exultações.

 

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