Seis homens ficaram no Cadafaz para salvar as casas. Nenhuma ardeu

Aldeia do concelho de Góis foi evacuada ao início da manhã de terça-feira, mas houve quem insistisse em ficar para combater as chamas

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Chegada dos bombeiros deu algum descanso aos habitantes de Cadafaz LUSA/TIAGO PETINGA

Quem vai de Góis em direcção ao Cadafaz ainda vê muito verde. Mas à medida que os quilómetros para a aldeia vão diminuindo, surgem manchas cinzentas, encostas carbonizadas e fumegantes, sinal de que as chamas passaram por ali não há muito tempo.

Cadafaz está quase deserta, com excepção de alguns bombeiros e GNR no largo de entrada. A aldeia foi uma das 27 que foram evacuadas na terça-feira no concelho de Góis. Não que a quietude das ruas fosse muito diferente com a população toda lá, contam ao PÚBLICO José António e Carlos Alves ao balcão do café da União Recreativa do Cadafaz. De Inverno, a localidade tem 12 pessoas a viver.

Os dois fazem parte de um grupo de seis homens que ficaram para trás para salvar as casas, recusando-se a seguir as indicações das autoridades para abandonar a aldeia. Vão atenuando o calor com cerveja fresca, mas têm na roupa um misto de poeira com cinza e nos olhos uma expressão que mistura alívio com cansaço.

Quando por volta das 9h os militares da GNR retiraram a restante população, José António disse que se manteria na aldeia. Ficaram “por teimosia”, admite. “Disseram que a gente ficava por nossa conta, mas isso já a gente sabia.”.

O dia foi passado em sobressalto, tanto que perderam a conta às horas. Muitas foram as chamadas que receberam dos vizinhos, para saber como estavam as casas. Carlos Alves ainda foi trabalhar de manhã, mas depois fintou as autoridades para chegar ao Cadafaz e ajudar a salvaguardar as habitações. “Chegou a uma altura em que estava tudo cercado a toda a volta. Era ir ao fundo, ver como é que estava e voltar outra vez para cima”.

Não custa a acreditar. O Cadafaz podia ser um postal, com muitas das casas de xisto. Agora as ruas estão cheias de cinza, no ar há um cheiro intenso a madeira queimada, e a vegetação que cerca a aldeia está carbonizada. José António, a quem Carlos Alves chama “o comandante de operações”, conta que o combate às chamas foi feito com poucas mangueiras de rega, ramos e “alguns truques”. “À entrada da noite chegaram os bombeiros e já descansámos mais um bocadito”. Não ardeu nenhuma casa.

Cabreira e Corterredor também fazem parte do grupo de localidades evacuadas na terça-feira, mas onde também ficou gente a proteger o que é seu. Adelino Mota é do Corterredor e foi um dos que ficou. “Só saio daqui quando o lume me chegar aos calcanhares”, disse perante a ordem de saída. “A nossa sorte foi o vento e a chuva”. Um porque mudou de direcção, outro porque “amaciou” as chamas ao final da tarde.

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