Quando eu era miúdo tinha a mania que não gostava de bolos. Era essa a minha afectação: só comia salgados, thank you very much. Quando íamos a uma pastelaria comia sempre um folhado de carne e um folhado de salsicha. Sabia a que horas saíam do forno para apanhá-los ainda quentes. Ia vê-los à cozinha.

Os melhores folhados eram os da Pastelaria Ferrari na Rua Nova do Almada, fechada pelo incêndio de 1988. Depois havia apenas 10 ou 12 outras pastelarias com bons folhados. Estava sempre a fazer listas - e a revê-las. A lista das melhores torradas era a mais comprida. Ainda hoje é relativamente fácil encontrar uma torrada bem feita, com pão de jeito e a manteiga certa.

O que nunca mais encontrei foi um bom folhado de carne ou de salsicha. O que é que aconteceu? Também os rissóis de pescada e de camarão, as empadas de galinha e os pastéis de massa ficaram desgraçadamente industrializados ou simplesmente desapareceram.

Dantes a massa folhada era culinariamente perfeita. E não se desconfiava da carne picada. A carne era cozinhada todos os dias, para ficar com o sabor acabadinho de fazer, de um bom empadão. Apesar da receita ser secreta os bons folhados de carne, por muito longínquas que ficassem as pastelarias, tinham um gosto muito parecido.

As salsichas eram industriais mas estaladiças e bem condimentadas. "Quando eu for grande", disse à minha mãe, "vou abrir uma pastelaria só com folhados feitos com as 12 melhores salsichas do mundo: inglesas, alemãs, polacas e até portuguesas...