Reler é saber

Ler e reler são actividades que se empreendem por serem agradáveis.

Thomas Bernhard disse, no derradeiro romance Extinção, que é relendo os autores de que gostámos que descobrimos os que são melhores do que à primeira vista pensámos.

São uma minoria. Muitos mais são aqueles que relemos e que temos vergonha de ter gostado.

É um erro. Digo isto apesar de estar agora a deliciar-me com mais uma leitura de todos os livros de Bernhard. É verdade que cada vez gosto mais de lê-los e que cada vez mais admiro a arte, honestidade, teimosia, clareza e intransigência do autor.

Bernhard escolhe Kafka antes (embora não acima) de todos os outros e é verdade que Kafka melhora com cada leitura que passa. Mas Bernhard também. É um torvelinho de exageros e veemências hilariantes e vingativas.

Não são só os autores. São também os livros. Como o autor Bernhard nunca escreveu um livro que não fosse viciantemente divertido e maravilhoso ele imaginou que não havia livros maus escritos por bons autores, só porque não há livros bons escritos por maus autores.

Mentira. Ler e reler são actividades que se empreendem por serem agradáveis. Ler é um prazer. Não é um dever. Não é um trabalho. Não é um objectivo. Não é, sobretudo, ums coisa boa que se faria mais caso “se tivesse mais tempo”.

Bernhard é um exemplo magnífico – da maneira mais segura e secreta que há – do prazer de ler. Aquilo que se lê, quando é bem escrito e, por causa disso, é bem lido, é sempre melhor ou, no mínimo, quase tão bom como aquilo que se sentiu e viveu.

 

 

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