Relatório sobre cheias no Mondego apresentado um ano depois

Só em Coimbra, inundações de Janeiro e Fevereiro de 2016 causaram 2 milhões de euros em prejuízos.

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O Mondego voltou a subir bastante em 2016 Sergio Azenha (colaborador)

O estudo sobre as cheias no rio Mondego do início do ano de 2016 vai ser apresentado na próxima terça-feira, um ano depois. Em Janeiro, depois de uma reunião com o presidente do município de Coimbra, Manuel Machado, o ministro do ambiente, Pedro Matos Fernandes, tinha referido que um relatório preliminar a elaborar pela Ordem dos Engenheiros estaria concluído no prazo de um mês.

Sobre a demora na apresentação do “Relatório de Caracterização das Condições de Escoamento do Rio Mondego” que deram origem às inundações, o ministério diz ao PÚBLICO que “a complexidade do estudo condicionou os timings da conclusão e consequente apresentação”, sem especificar mais detalhes.

Em Coimbra, nas reuniões do executivo, a oposição tem vindo a questionar o presidente sobre este dossier. O estudo, cujas conclusões são conhecidas na terça-feira, em Coimbra, levará à adopção de “outras medidas” para além da operação de desassoreamento do Mondego.

A 9 de Janeiro de 2016, as águas do Mondego começaram a subir e afectaram várias povoações dos municípios de Coimbra, Soure, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz. Só na capital do distrito, em património municipal, as inundações causaram 2 milhões de euros em prejuízos, tendo também causado estragos em habitações e estabelecimentos comerciais. Os casos mais mediáticos foram o Parque Verde do Mondego e o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, espaços onde as marcas das cheias ainda são notórias.

Na sequência das inundações, foram várias as entidades que pediram a modernização do sistema de alerta de cheia, como a Comunidade Intermunicipal (CIM) de Região de Coimbra. Citado pela Lusa, o presidente do conselho intermunicipal da CIM de Coimbra, João Ataíde, referia que "a rede nacional de recursos hídricos tem estado sujeita a restrições orçamentais que colocam em causa a fiabilidade dos dados recolhidos sobre os caudais dos rios" e exigia a sua modernização. Nas respostas dadas pelo Ministério do Ambiente ao PÚBLICO por email, não é claro que esta situação esteja resolvida.

Mas o Inverno de 2016 não acabaria sem que o rio voltasse a galgar as margens, a 13 de Fevereiro e a voltar a inundar casas, lojas, equipamentos públicos e campos. Era então notório que a acumulação de sedimentos em determinadas zonas do Mondego potenciava as consequências das cheias.

Desassoreamento

O protocolo entre Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e Câmara Municipal de Coimbra (CMC) para avançar com o desassoreamento do rio Mondego foi assinado em Julho, num investimento de 16,3 milhões. Os trabalhos, divididos em várias fases, ainda não arrancaram, mas a operação de desassoreamento da albufeira do açude-ponte, em Coimbra se encontra em fase de concurso público.

Manuel Machado sempre fez depender o desassoreamento da estabilização dos muros que servem de margem na parte central da cidade de Coimbra. A intervenção nos muros da margem direita foi também já anunciada e faz parte do pacote assinado com a APA, enquanto que os custos da estabilização dos muros da margem esquerda, sendo de uma dimensão inferior, serão assumidos pelo município.

O trecho mais dispendioso é entre as pontes de Santa Clara e Açude (8 milhões de euros), financiado a 85% por fundos comunitários, sendo que as obras nos muros do Parque Manuel Braga, imediatamente a montante da ponte de Santa Clara, já foram também anunciadas.

O estudo encomendado pelo governo não é o único contributo para compreender e prevenir a subida do nível das águas quando a chuva é mais intensa na região entre Coimbra e a foz do Mondego. A CIM de Coimbra avançou para a criação de um Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas, que não serve apenas situações de cheias mas também incêndios e outros fenómenos. O documento está ainda a ser elaborado e deverá ser apresentado ainda este ano, diz João Ataíde, que é também presidente da câmara da Figueira da Foz, ao PÚBLICO.

Para o responsável é preciso uma “política de actualização” na relação com o rio. “Chegámos à conclusão que, com os últimos acontecimentos, catástrofes como cheias, de incêndios e erosão costeira há que fazer um levantamento de todas as situações e procurar monitorizar os factores de risco”, afirma Ataíde.

Passado um ano, apesar do desassoreamento ainda não ter arrancado e de estar por conhecer os resultados de estudos, há pelo menos uma mudança visível no Mondego. A empresa municipal Águas de Coimbra mandou instalar, perto da margem direito, um repuxo que custou 160 mil euros mais IVA. 

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