Relatório mantido secreto aponta falhas graves no combate aos incêndios de 2013

O documento foi encomendado pelo Governo de Passos Coelho, mas classificado como sigiloso pelo anterior e actual executivo, escreve o Jornal de Notícias.

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Em 2013 morreram nove bombeiros Rui Farinha/NFactos

Falhas na formação, desobediências e falta de coesão, articulação e comunicação nas equipas de bombeiros compõem algumas das críticas feitas à forma como foi feito o combate aos seis grandes incêndios florestais de 2013, que causaram a morte a nove operacionais. As conclusões constam num relatório encomendado a especialistas da Universidade de Coimbra em 2013, citado pelo Jornal de Notícias, e que foi mantido em segredo quer pelo executivo de Passos Coelho, quer pelo actual Governo.

Porém, em Dezembro de 2013, o PÚBLICO teve acesso ao relatório preliminar relativo à mesma matéria e que já então dava conta de "anarquia" no uso do contrafogo, ordens desrespeitadas e deficiências no equipamento

O relatório final agora revelado, um documento de 80 páginas assinado por especialistas do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra, pedido pelo Governo de Passos Coelho para averiguar as causas que levaram à morte de nove bombeiros em 2013 foi considerado “sigiloso”, detalha o Jornal de Notícias.

Equipamentos de fraca qualidade, “desconhecimento sobre o uso do fogo” e sobre “o seu carácter dinâmico em encostas e desfiladeiros”, “excessos de confiança”, distanciamento entre as entidades operacionais e as locais, nomeadamente autarquias e população, problemas nos sistemas de comunicação e sobrecargas nos rádios, ao ponto de ser recomendado o uso de telemóveis, são algumas das falhas apontadas no documento.

A essas somam-se ainda as dificuldades devido à falta de prevenção quer por parte de entidades públicas quer por proprietários privados.

Domingos Xavier Viegas, um dos autores do relatório, foi questionado pelo JN sobre os problemas assinalados no relatório. Ao jornal, o especialista da Universidade de Coimbra afirma que a qualidade dos equipamentos melhorou desde o relatório. “Mas no que diz respeito aos sistemas de comunicação usados nos teatros de operações, julgo que não houve mudanças. Achamos que os ensinamentos e as lições de análise a estes acidentes de 2013 deveriam ser disseminados pela comunidade operacional”, acrescenta, sublinhando que o relatório deveria ser divulgado.

O JN diz ainda que questionou o Ministério da Administração Interna sobre as medidas tomadas para responder às falhas detectadas, mas não obteve resposta.

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