Quem está hoje no mercado de trabalho estará em maior risco na reforma

Cerca de 40% das pessoas em idade activa consideram que quando chegarem à idade de reforma não conseguirão desempenhar as tarefas que actualmente têm a cargo.

Stefano Scarpetta: “O mercado de trabalho está a mudar, as carreiras são mais intermitentes e por isso não permitem níveis de contribuição que seriam desejáveis”
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Stefano Scarpetta: “O mercado de trabalho está a mudar, as carreiras são mais intermitentes e por isso não permitem níveis de contribuição que seriam desejáveis”
Jorge Figueiredo: “A idade não é um factor de exclusão”
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Jorge Figueiredo: “A idade não é um factor de exclusão”
John Beard: “A mudança fundamental tem a ver com a alteração do modo como lidamos com os idosos”
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John Beard: “A mudança fundamental tem a ver com a alteração do modo como lidamos com os idosos”

Quando chegar à reforma, a população que está actualmente em idade de trabalho vai enfrentar uma situação de “maior desigualdade” face à geração precedente, alertou, nesta quinta-feira, o director do Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Stefano Scarpetta.

“O mercado de trabalho está a mudar, as carreiras são mais intermitentes e por isso não permitem níveis de contribuição que seriam desejáveis”, justificou Stefano Scarpetta, durante a Conferência Ministerial sobre o Envelhecimento, que está a decorrer em Lisboa, e que é promovida pela Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (UNECE). Participam os ministros responsáveis pela área do envelhecimento dos 49 estados, além de outras entidades relevantes, como as Nações Unidas, a Comissão Europeia e a Organização Internacional do Trabalho.

No painel dedicado à presença das pessoas mais idosas no mercado de trabalho, Stefano Scarpetta referiu que a partir dos 60 anos o acesso ao mercado de trabalho “é muito difícil”, nomeadamente entre as pessoas que têm “competências intermédias”, sendo que o acesso à formação “é ainda muito reduzido entre os idosos”.

Uma constatação: “A aprendizagem ao longo da vida ainda está muito longe de se tornar uma realidade." Uma situação que terá de se inverter com o objectivo de fornecer “competências digitais mínimas às pessoas mais idosas”, disse Scarpetta, que apontou este objectivo como um “desafio”.

Será a forma de diminuir as diferenças, no domínio das novas tecnologias, entre os mais velhos e os mais novos. Uma diferença que é maior do que aquela que separa os países neste domínio, frisou.

Na mesma sessão Montserrat Roca, secretária da Confederação Europeia de Sindicatos, lembrou estatísticas recentes europeias dando conta que “40% das pessoas em idade activa consideram que quando chegarem à idade de reforma não conseguirão desempenhar as tarefas que actualmente têm a cargo”.

Já a boa notícia veio da Noruega: em 10 anos, entre 2005 e 2015, registou-se um aumento de 60% no emprego de pessoas entre os 60 e os 64 anos, revelou Bjorn Halvorsen, conselheiro especial do Ministério do Trabalho e dos Assuntos Sociais. Apresentando-se a si próprio como exemplo, já que está neste posto apesar de ser reformado, Halvorsen revelou que na Noruega “não existem estratégias específicas para a população idosa, mas sim abordagens universais, que passam por garantir a todos o acesso aos serviços de educação e saúde”. “A igualdade e confiança são amigas do emprego”, disse.

De Portugal, como exemplo de boas práticas na gestão das idades, foi apresentado o caso do Grupo Nabeiro, onde a média de idades dos trabalhadores ronda os 42 anos, indicou o director dos Recursos Humanos, Jorge Figueiredo. “A idade não é um factor de exclusão”, frisou, adiantando que 20% dos trabalhadores do grupo (cerca de 650 pessoas) têm mais de 50 anos e 4% (mais de 130 trabalhadores) têm mais de 60.

“A mudança fundamental tem a ver com a alteração do modo como lidamos com os idosos”, frisou, por seu lado, o director do Departamento de Qualidade de Vida e do Envelhecimento da Organização Mundial de Saúde (OMS), John Beard. Por exemplo, disse, “não é aceitável que os idosos sejam tratados nos lares como se fossem crianças”.

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