Quase 50 mulheres da zona de Porto fizeram tatuagem mamária reconstrutiva desde 2016

Cada tatuagem mamária reconstrutiva custa 100 euros. Sérgio Carvalho, o tatuador, defende que esse custo deveria ser "assumido pelo Serviço Nacional de Saúde".

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Paulo Pimenta

Um projecto de tatuagem mamária reconstrutiva, nascido há um ano em Matosinhos, no distrito do Porto, envolveu já quase meia centena de mulheres vítimas de cancro da mama, disse à Lusa o responsável pela iniciativa, Sérgio Carvalho.

"Neste quase um ano de projecto já assisti praticamente 50 mulheres", afirmou o tatuador, que sublinhou o contributo dessas intervenções para que as mulheres em causa recuperassem a autoestima.

O tatuador, que conta com a colaboração neste projeto da enfermeira Ana Lopes, explicou que uma parte do seu trabalho consiste na pigmentação da aréola mamária. "Nem sempre a aréola e mamilo são preservados na mastectomia. De forma geral, o mamilo é reconstruído com pele do próprio local e a aréola com enxerto de pele da região inguinal. A pigmentação da aréola é feita com ajuda da tatuagem. A tatuagem é entendida como a finalização do processo e melhoramento da autoestima, trazendo à mama a beleza original", sustentou.

O tatuador referiu que a iniciativa arrancou depois da visita de uma médica do Instituto Português de Oncologia à sua loja para "verificar a qualidade do trabalho e a forma limpa como é feito".

Ao longo de uma carreira de mais 20 anos, Sérgio Carvalho fez "uma média de quatro tatuagens mamárias reconstrutivas por ano". A partir do momento em que houve o interesse dos médicos "a procura duplicou". Cada tatuagem mamária reconstrutiva custa 100 euros. Sérgio Carvalho defende que esse custo deveria ser "assumido pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS)", na medida em que "vai beneficiar e muito a autoestima das mulheres".

Por indicação médica

Na sua loja em Matosinhos, a Wildbuddhatattoo, Sérgio Carvalho já atende mulheres para a tatuagem mamária de "várias partes do país", referindo que aguarda "pela criação de um grupo de senhoras em Lisboa para, muito em breve, ir tatuá-las na capital".

Segundo o tatuador, grande parte das mulheres que chegam à sua loja para tatuagem areolo-mamilar, fazem-no "por indicação médica". Sérgio Carvalho explicou que espera "sempre seis meses após a cirurgia para tatuar, evitando o risco de surgirem infeções, tal como aconselham os médicos".

O tatuador alertou para o facto de "não haver retorno" numa tatuagem, referindo ter sido, "pelo menos em duas ocasiões, confrontado por mulheres que chegaram tristes pela tatuagem de reconstrução feita noutro lado, em situações em que pouco já se podia fazer".

Segundo afirmou "há muitos casos de correções de tatuagem areolo-mamilar mal feita que põe por terra o objetivo deste tipo de ação, ajudar e apenas melhorar a autoestima. Neste momento, muitas mulheres enfrentam o retorno de insegurança devido estes trabalhos mal conseguidos, alguns casos sem possibilidade de correção". Por isso, apela a que as mulheres se informem e procurem locais qualificados para a realização deste trabalho.

Sérgio Carvalho conta que é gratificante ver o "sorriso da mulher", quando se olha ao espelho após a tatuagem reconstrutiva.
"Ainda hoje tenho quem passe aqui só para me entregar um chocolate, um mimo, como forma de agradecimento. Contam-me que voltaram à normalidade com o marido", disse.

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