PSD admite chamar ministro ao Parlamento por causa do Centro Hospitalar do Algarve

Álvaro Botelho, director de Ortopedia dos hospitais de Faro e Portimão, terá batido com a porta. Administração continua debaixo de fogo.

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O mal-estar entre médicos e administração do centro hospitalar arrasta-se há meses Virgílio Rodrigues

O PSD pondera pedir a intervenção do ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, no caso do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), que passa por mais uma fase de grande crispação interna.

Desta vez, o rastilho para mais uma crise, que coloca administração de um lado e especialistas do outro, tem a ver com a forma como o conselho de administração (CA) lidou com o afastamento da ex-directora do serviço de Neurocirurgia, Alexandra Adams, considerada uma “profissional competentíssima”. O mal-estar que se vive no CHA terá conduzido ontem à demissão do director do serviço de Ortopedia dos hospitais de Faro e Portimão, Álvaro Botelho, uma informação confirmada ao PÚBLICO por fontes médicas mas que a administração do centro hospitalar desmente.

O deputado do PSD eleito por Faro, Cristóvão Norte, fala de um clima de “guerra civil interna”. Aponta o dedo à administração, que acusa de ser “incapaz de gerir o centro hospitalar” e de “pôr em causa a oferta assistencial”. E não poupa o ministro da Saúde, responsabilizando-o por ter feito “declarações precipitadas” que se traduziram “num prejuízo para a reputação da instituição”.

O parlamentar, que acompanha de perto a situação no CHA, admitiu, em declarações ao PÚBLICO, “requerer a intervenção do ministro da Saúde, que fez declarações que não devia ter feito”. “Disse que o CHA vive num clima de paz social quando essas declarações são categoricamente desmentidas com a abundância de cartas que retratam não só mal-estar e desconforto, mas também o clima de crispação” no centro hospitalar.

“Se o que se passa no CHA é paz social, o que será guerra civil?”, questiona o deputado, revelando: “Jamais testemunhei um clima de tanta crispação e por isso é que pedimos a presença do presidente do CA no Parlamento para avaliarmos a situação e tirar conclusões”, refere, censurando a “falta de diálogo” da administração, a quem acusa de “tomar medidas erráticas e que não salvaguardam o interesse público”.

Nesta sexta-feira, as declarações de apoio à até aqui directora do serviço de Neurocirurgia sucederam-se. A directora do serviço de Anestesia 1, Ana Lares, expressou, em nome da equipa que dirige, o “contributo que Alexandra Adams deu, quer no desenvolvimento da especialidade de Neurocirurgia na região do Algarve, quer no empenho da prestação de cuidados de qualidade aos utentes, revelando sempre um profissionalismo de excelência”.

“Reconheço, assim, o seu dedicado trabalho que foi desenvolvido na qualidade de directora do Serviço de Neurocirurgia”, escreve Ana Lares num e-mail ao director clínico do CHA, Carlos Santos, onde dá conta do descontentamento pelo teor da circular informativa n.º 119/16 [da administração], relativamente à forma como foi publicamente exposta uma situação que deveria ter sido resolvida internamente, sem denegrir a imagem profissional da directora de serviço à data, que sempre se demonstrou ser uma profissional preocupada e dedicada ao seu serviço”.

Também a directora do serviço de Psiquiatria 1, Ana Cristina Trindade, manifestou a sua solidariedade para com a colega da Neurocirurgia e destacou “o seu elevado profissionalismo e empenho”.

Quanto à demissão de Álvaro Botelho, até agora director do serviço de Ortopedia dos hospitais de Faro e Portimão, estará relacionada com a solução encontrada pelo CA para minimizar a falta de recursos nesta especialidade. Álvaro Botelho, com quem o PÚBLICO tentou falar ao longo do dia de hoje, mas sem sucesso, não terá sido informado da contratação de dois especialistas (provenientes de Bragança) e de uma anestesista que começaram a trabalhar no passado fim-de-semana.

O CA do CHA desmente, através do seu assessor de comunicação, a demissão do director do serviço de Ortopedia e afirma que, "quanto à resolução dos problemas de governação do centro hospitalar, continua a dedicar-lhe toda a atenção que merece", uma tarefa para a qual conta com "todos os profissionais empenhados e dedicados que fazem parte das soluções". E acrescenta que "continua a diligenciar no sentido do reforço do corpo clínico".

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