Presidente quer que os sem-abrigo passem a comer em refeitórios

Governo já tem versão da nova Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo que deverá entrar no circuito legislativo nos próximos dias

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Nelson Garrido

Marcelo Rebelo de Sousa entrou na Casa da Rua, a comunidade de inserção da Santa Casa da Misericórdia do Porto, nesta segunda-feira à tarde e pôs-se a abraçar toda a gente. “É mesmo o Presidente dos abraços”, comentou Celina Silva, da associação Uma Vida como a Arte, formada por pessoas com experiência de rua. “É aquele abraço sentido”, concordou o colega Rui Salvador. 

Não estava ali para voltar a falar na nova Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo (2017-2023). “Eu acho que o Governo está a responder, a perceber a importância da resolução do problema”, declarou ao PÚBLICO. A secretária de Estado da Segurança Social, Cláudia Joaquim, até iria com ele fazer uma ronda – primeiro com a equipa de rua dos Médicos do Mundo, depois, com a dos Serviços de Assistência Organizações de Maria. 

O Governo já tem a versão da nova estratégia que nos próximos dias deverá entrar no circuito legislativo. O Presidente conhece-a. “Haverá zonas marginais que são sempre dependentes da vontade das pessoas, mas no essencial o problema é resolúvel com três vias de actuação: emprego, casa e, até se encontrar  solução, zonas para servir refeições que não sejam na rua, que sejam em refeitórios”, apontou. “Não está assim tão claro na nova estratégia, eu estou a dizer que corresponde ao [defendido pelo] primeiro-ministro e ao [defendido pelo] Governo."

Proferiu aquelas frases já na cozinha. Todos os dias, dali saem 100 refeições ao almoço e 100 ao jantar (20 para residentes e 80 para pessoas alojadas em quartos de pensões ou de casas). E ele quis servir algumas - sopa de legumes, lombo de porco assado com arroz e batata, pão e gelatina.

Refeitórios ou cantinas escolares

Gostou do que viu em Fevereiro a uns metros dali, no chamado Restaurante Solidário, uma parceria impulsionada pela autarquia (a Ordem do Terço empresta o refeitório e a equipa de cozinha para preparar a comida; os alimentos são recolhidos pela Centro de Apoio aos Sem-Abrigo, o Banco Alimentar, a Portis-Hostéis Portugueses; a câmara paga as despesas de manutenção do espaço e dos equipamentos e os alimentos em falta). E é esse modelo ou o recurso a cantinas escolares que, diz, geram consenso. “As pessoas comem sentadas à mesa sem preocupação de qualidade e de tempo e de humanização”, resumiu.

A associação Uma Vida Como a Arte, que o convidou, tinha-lhe pedido que fizesse uma reunião com representantes de instituições e serviços do Núcleo Planeamento e Intervenção Sem Abrigo (NPISA) para que “se entendam e melhor se organizem”, mas Rebelo de Sousa recusou. Preferiu abraçar as pessoas, falar com elas, ouvir o Som da Rua, um projecto de inclusão do Serviço Educativo da Casa da Música, servir o jantar, e fazer uma ronda com equipas profissionais para perceber melhor a intervenção ao nível da saúde mental.

Ninguém ficou desiludido. “O Presidente já está inteiramente informado sobre o que se passa em Lisboa e no Porto”, observou António Ribeiro, presidente da associação, um tanto emocionado. “O momento não é de reuniões.” Muitos pediram autógrafos e o Presidente deu-os, letras grandes em cadernos de linhas, sempre com “um abraço amigo”. “É um Presidente muito afectuoso”,  concluiu Celina Silva. "Ai, ele é demais", contorceu-se Rui Salvador.

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