Praga que está a matar a batata galega não foi detectada em Portugal

Proibição de plantação de batata na Galiza vai ser alargada a 31 municípios para combater a doença. Governo português garante que a praga não foi detectada em território nacional, embora reconheça existir risco de contaminação.

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Doença está a afectar batata galega Paulo Pimenta

O Governo espanhol deverá estender de sete para 31 o número de municípios na Galiza onde será proibida a plantação de batatas durante dois anos devido a uma praga que está a afectar fortemente o cultivo deste tubérculo. Em Portugal está em curso desde o início do ano passado um “programa de prospecção” e o Ministério da Agricultura garante que a doença não foi detectada.  

A Tecia solanivora Povolny, uma larva de um insecto popularmente conhecida como traça da Guatemala e que destrói o miolo das batatas, tornando-as impróprias para consumo, foi descoberta em Espanha em 1999, nas Canárias, onde ainda não foi erradicada. Chegou à Galiza em 2015, na província de Ferrol, e rapidamente se estendeu pelo norte da região, tendo mesmo chegado às Astúrias.

Desde essa altura o Governo galego e o Executivo nacional espanhol tomaram diversas medidas para combater a praga que não impediram que ela se espalhasse rapidamente pelo território. Embora a maioria das plantações atingidas sejam de autoconsumo, as autoridades de Espanha temem que a traça da Guatemala possa atingir grandes áreas produtivas, onde são plantadas batatas reconhecidas pela União Europeia como sendo de zona de Indicação Geográfica Protegida e que a sua exportação venha a ser proibida para este espaço europeu. Segundo diversos especialistas ouvidos pela imprensa espanhola, a praga não é perigosa para a saúde humana.

O PÚBLICO contactou o ministério da Agricultura português que, em respostas por escrito, revelou que a praga não foi detectada em Portugal. Revelou ainda estar em curso desde um início do ano passado um “programa de prospecção" que abrange campos de batata, armazéns de acondicionamento e centrais de embalamento, para despiste da presença de tubérculos com sintomas suspeitos, “com especial incidência nos originários de Espanha e em particular das regiões contaminadas”.

O ministério da Agricultura remete mais informação para uma circular de 14 de Novembro do ano passado da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) que dá conta da existência desta praga na Galiza e nas Astúrias. Na nota é reconhecido “o risco do seu estabelecimento no nosso território”, “a importância de uma actuação precoce da sua introdução” e solicita-se a todos a comunicação imediata de qualquer caso suspeito.

Importações de Espanha

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística de 2015, os portugueses consumiram cerca de 900 mil toneladas de batata, sendo que a produção nacional ronda as 700 mil toneladas, pelo que a restante é importada. Os principais fornecedores são França e Espanha.

O jornal Faro de Vigo revela que a Galiza é a segunda comunidade de maior produção de batata em Espanha, com um total de 469 mil toneladas, 20% das 2,2 milhões que são produzidas no país. Só nas regiões de maior produção, Limia e Ourense, o sector representa cerca de 11 milhões de euros por ano.

Desde que a praga foi detectada já foram destruídos 6800 quilos de batata, com os agricultores que solicitaram ajuda governamental a conseguirem um subsídio de 30 cêntimos por quilo destruído.

“Temos uma grande preocupação que esta praga chegue às zonas de denominação protegida da Batata da Galiza, onde há muita gente a viver dela”, disse nesta terça-feira a directora-geral da Agricultura, Belén do Campo, citada pela imprensa espanhola, que dá conta do decreto que o Governo está a preparar e que estenderá a proibição de plantar a 31 municípios onde foi detectada a praga. Neste sentido, o Governo galego pede aos agricultores que deixem já de plantar, pois, quando o decreto for publicado, correm o risco de ter de retirar da terra o que plantaram.

A responsável incitou os agricultores a cumprirem as medidas de combate à praga introduzidas há quase dois anos, como a colocação de armadilhas com feromonas sexuais para atrair e capturar as larvas, a realização de tratamentos fitosanitários, utilização de sementes com garantia sanitária e retirar do terreno e destruir todos os tubérculos afectados.

Segundo o porta-voz da Associação Rural Galega, García Ponce, citado pelo Faro de Vigo, “pragas como a da traça da Guatemala, não conhecem fronteiras e expandir-se-ão de acordo com as condições climatéricas”. Para ele, mais importante do que proibir a plantação, é dar “toda a informação aos agricultores sobre como combater a praga” e “quais os meios existentes para o fazer”.

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