“Os meios de comunicação vão ser um excelente negócio no futuro”

O director do El País, Antonio Caño, fechou um dia de conversas no Festival P. No Pátio da Galé, o PÚBLICO apresentou um novo projecto de jornalismo local, antecipou o redesenho do site, deu vinho a provar e pôs leitores a falar de sexualidade. Gisela João levantou a plateia.

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David Dinis e Antonio Caño Nuno Ferreira Santos
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David Dinis e Antonio Caño Nuno Ferreira Santos
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A plateia no Festival P Nuno Ferreira Santos
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Antonio Caño Nuno Ferreira Santos
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David Dinis Nuno Ferreira Santos

Antonio Caño não é um optimista. O director do El País foi ao Pátio da Galé, em Lisboa, lembrar que um optimista é um pessimista mal informado. “O jornalismo independente está em perigo. Logo, a democracia liberal está em perigo.” Há menos dinheiro, o que obriga os jornais a serem “mais humildes”. A resposta política à crise gerou “frustrações” que nos põem a questionar as instituições. O jornalismo é uma delas. Os populistas aproveitam-se. Os leitores põem em causa factos. Agem para os descredibilizar. As redes sociais diluem, afunilam.

E no entanto, na conversa que teve neste sábado com o director do PÚBLICO, David Dinis, no painel final do Festival P, o jornalista espanhol proferiu uma afirmação ambiciosa: “Os meios de comunicação vão ser um excelente negócio no futuro”. Caño pode ser um pessimista, mas não é certamente um fatalista. Recusa baixar os braços, porque não vê sentido nisso: o El País nunca teve tantos leitores. Está em Espanha, nos EUA, no México, no Brasil – onde servem de contrapeso à imprensa brasileira. “Vamos ser necessários. Não podemos entregar-nos".

O caminho é armadilhado. “O perigo não é que os leitores tenham agora [com as redes sociais, por exemplo] uma grande capacidade de falar directamente connosco, o perigo é que muitas vezes são campanhas para desprestigiar os media”, disse à plateia de jornalistas e leitores. “Antes falávamos no meio do silêncio, agora temos de nos fazer ouvir no meio do ruído.” Mas as redes sociais não são um problema. “Devemos convertê-las em aliadas”, sublinhou Caño. “Não tenho nada contra as redes sociais, mas contra algumas pessoas que as usam".

O director do El País não tem a resposta de que toda a indústria dos media anda à procura: o novo e messiânico modelo de negócio. Mas acredita que o debate sobre edições pagas ou gratuitas está ultrapassado. “O modelo vai evoluir muito rapidamente e o dilema deixará de ser pago ou não pago. Nenhuma das soluções resultou. Acredito que teremos outro tipo de conceito, em que conviverão espaços pagos com espaços não pagos. De alguma forma teremos de cobrar pelo nosso trabalho. Uma taxa fixa por acesso, um fee por determinadas notícias? Não sei. De alguma forma será. Mas não será da forma tradicional".

“Os jornais têm de ser um espaço aberto. E os que estão abertos têm de cobrar por alguns acessos, alguns serviços”, continuou. “Um jornal não é uma lista de notícias.” No entanto, isso “tem de ser gratuito”. “Se impedes as pessoas de entrar em tua casa, elas vão acabar por desistir.” Por outro lado, o que é pago e é para “continuar enquanto for possível” é a edição em papel dos jornais. “Continua a ter força.” Caño recorreu a um exemplo que os jornalistas conhecem bem: os entrevistados, apesar de saberem que terão maior alcance online, continuam preocupados em saber se aparecerão no papel. “É mais um instrumento que temos, que temos de continuar a utilizar, apesar dos poucos rendimentos que gera.”

Durante a manhã, a rentabilidade do jornalismo já tinha sido aflorada por José António Cerejo para expor uma pescadinha de rabo na boca. “É muito complicado para as organizações incentivarem o jornalismo de investigação actualmente”, lamentou. Contudo, um jornalismo “com tempo, recuo e reflexão podem distinguir-nos daquela coisa que circula sem confirmação, sem nada, para a qual as pessoas são atraídas".

O Festival P promoveu 17 conversas e encontros, da cultura ao humor, da gastronomia e dos vinhos às viagens e à sexualidade. Os leitores viram em primeira mão o novo site do PÚBLICO e ficaram a conhecer o Cidades, o novo projecto de jornalismo de dados de âmbito regional. O programa fechou com Gisela João, que encerrou a tarde com uma ovação.

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