Os grâmpios

Resmungar é uma técnica que se aperfeiçoa à medida que envelhecemos, sem qualquer esforço da nossa parte.

Resmungar é uma técnica que se aperfeiçoa à medida que envelhecemos, sem qualquer esforço da nossa parte. A competência não é para aqui chamada: é o prazer de resmungar que aumenta desmedidamente.

É uma questão de liberdade ou de perceber que o nosso tempo está a acabar ou tomar consciência que nada do que dizemos tem o mais pequeno efeito sobre a realidade - se é que há diferença entre estas três coisas.

As pessoas resmungonas não precisam de ser encorajadas. É só carregar no botão que a resmunguice começa a jorrar. A BBC divide-os, muito divertidamente, em programas televisivos de grumpy old women e de grumpy old men. São os seres grâmpios e grampar é o que fazem melhor.

Felizmente há muita escolha. Os dois praticantes mais exímios e ácidos são Germaine Greer e Javier Marías. Greer a escrever sobre Theresa May (no New Statesman de 17 de Junho) é cruel e hilariante. Ei-la a escrever sobre a capa da Vogue com May: "A fotógrafa foi Annie Leibovitz, que é incapaz de tirar uma fotografia monótona pelos 150,000 dólares que cobra por boneco, a não ser que seja da Theresa May".

Todos os domingos no El País Javier Marías aproxima a grampidão do épico. É necrológica e elegante a compilação online das crónicas, com uma indicação irritante e filisteia de quanto tempo levam a ler (3 Min. juntamente com um relógiozinho o a indicar meia-noite ou meio-dia e 25).

Generaciones de mastuerzos e Los vejestorios cabrones são só duas das obras-primas de imperioso escárnio e maldizer. Grampar é lindo. 

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