Suspeita de ligação de inspector da PJ ao narcotráfico remonta a 2006

Carlos Dias Santos foi acusado de tráfico de droga agravado, associação criminosa com vista ao tráfico e corrupção passiva para prática de acto ilícito.

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A DEA alertou a PJ para ter "atenção e cuidados na transmissão de informações" Fabio Augusto

A acusação da Operação Aquiles revela que, em Outubro de 2006, a Polícia Judiciária já dispunha de informações que evidenciavam "fortes suspeitas" de ligações do coordenador de investigação criminal da PJ Carlos Dias Santos aos traficantes de droga.

Segundo a acusação, a que a agência Lusa teve acesso, entre Outubro de 2006 e Janeiro de 2007, elementos da Unidade de Prevenção e Apoio Tecnológico (UPAT/PJ) transmitiram à sua hierarquia informações resultantes de vigilâncias e recolha de informações que "evidenciava fortes suspeitas de ligações ao mundo do crime", de Carlos Dias Santos.

Carlos Dias dos Santos e o inspector-chefe da PJ Ricardo Macedo foram acusados de tráfico de droga agravado, associação criminosa com vista ao tráfico e corrupção passiva para prática de acto ilícito, no âmbito da Operação Aquiles na qual o Ministério Público acusou 29 arguidos.

As informações de 2006, indica a acusação, apontavam para a ligação de Carlos Dias Santos, da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE), com Jorge Manero de Lemos e à actividade de tráfico de droga desenvolvida por este último.

Na altura, um agente encoberto da PJ, durante uma reunião que manteve com um suspeito de nacionalidade paraguaia, ficou a saber que a organização criminosa que exportava cocaína para a empresa de Torres Vedras “Terra Australis” "tinha um informador na Polícia Judiciária" que revelava as movimentações da polícia no combate ao narcotráfico.

Também as autoridades norte-americanas [DEA] informaram a PJ de que um dos seus elementos que colaborava com as organizações criminosas da América do Sul tinha a alcunha de "la maquina", facto que adensou as suspeitas sobre Dias Santos por o mesmo usar muitas vezes a expressão "és uma máquina".

"Esta situação foi de tal forma grave que a Drug Enforcement Administration [DEA] por falta de confiança esteve mais de um ano sem colaborar com a PJ", lê-se no despacho do MP.

Dias Santos foi afastado da UNCTE, tendo sido colocado na Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo (UNCT) e posteriormente reformou-se. Porém, com a saída de Dias Santos as fugas de informação não cessaram, pelo que se suspeitou de que havia mais alguém da UNCTE a passar informação às associações criminosas, recaindo agora as suspeitas sobre o inspector-chefe Ricardo Macedo.

Em 2013, o oficial de ligação em Portugal da DEA avisou um inspector-chefe da PJ para ter "atenção e cuidados na transmissão de informações, pois na PJ, existiam dois funcionários que não eram de confiança", apontado os nomes de Carlos Dias Santos e Ricardo Macedo.

Segundo relata a acusação, os dois elementos da PJ, além de darem informações às organizações criminosas que protegiam, através dos contactos com os pretensos informadores, por vezes recebiam informações das mesmas organizações relativamente ao tráfico desenvolvido por organizações "concorrentes".

Carlos Dias Santos e Ricardo Macedo "utilizavam por vezes tais informações na UNCTE para fazer bons serviços com apreensões de droga e assim credibilizar os pretensos informadores" e serem reconhecidos pelos seus superiores.

Neste processo, o MP acusou 29 arguidos por tráfico de droga, associação criminosa e corrupção com vista ao tráfico e corrupção passiva para prática de acto ilícito, incluindo o militar da GNR José Baltazar da Silva e Frankelim Lobo, líder da organização de narcotráfico com residência em Málaga, Espanha, mas com paradeiro desconhecido.

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