Obesidade atinge 10% da população portuguesa

Programa nacional aposta na prevenção.

A obesidade atinge 1 milhão de adultos em Portugal e 3,5 milhões são pré-obesos. São os principais resultados de um relatório que apresenta números preocupantes nos mais novos: cerca de 15% das crianças entre os 6 e os 9 anos são obesas e mais de 35% sofrem de excesso de peso. As questões socioeconómicas parecem ter uma influência decisiva.

Na apresentação do relatório “Portugal: Alimentação Saudável em Números 2013”, esta quinta-feira, Pedro Graça, director do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), revelou dados que apontam para uma relação entre o nível económico e a obesidade: “Quando o rendimento familiar diminui, aumenta a prevalência da obesidade”. A idade e o grau de instrução são também importantes: “As pessoas de mais idade e com menos escolaridade sofrem mais com a obesidade”, afirmou. As limitações no acesso aos alimentos são preponderantes para a existência da obesidade: os produtos que fornecem muita energia a baixo custo são mais acessíveis e beneficiam de campanhas publicitárias muito fortes, o que acaba por fazer com que cheguem mais facilmente às pessoas mais carenciadas e com menor grau de instrução, logo, com menor capacidade para evitar o seu consumo.

A média de consumo diário de vegetais na sopa aos 6 meses de idade atinge os 96% e no que toca a fruta, os números indicam que mais de 92% das crianças nesta idade consomem-na diariamente. No entanto, as boas práticas alimentares nos mais novos aparecem ao lado de dados menos positivos: numa base diária, mais de 10% das crianças com 18 meses têm acesso a sobremesas doces e 18% a refrigerantes sem gás.

Existe quase um equilíbrio no que toca à distribuição do excesso de peso entre crianças do sexo masculino e feminino, embora com prevalência para os rapazes: 34% entre os 6 e os 9 anos apresentam excesso de peso, 18% estão num estado de pré-obesidade e mais de 15% são obesos. Os números relativos a raparigas ficam uns pontos percentuais abaixo: 30% têm excesso de peso, mais de 16% são pré-obesas e cerca de 13% atingiram a obesidade.

A redução de boas práticas alimentares nos jovens parece caminhar a par com o aumento da sua autonomia. A percentagem diária da toma do pequeno-almoço durante a semana é de 89% nas crianças que frequentam o 6.º ano de escolaridade, mas desce para os 71% nos jovens do ensino secundário. O consumo de refrigerantes também aponta para esta tendência – à medida que se sobe de escolaridade, sobe a percentagem de consumo semanal deste tipo de bebidas.

A modificação nos hábitos de consumo, com o aumento da ingestão de gorduras e proteínas de origem animal, associada ao sedentarismo, favorecem a incidência de obesidade. Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, referiu que o consumo de sal e a densidade energética dos alimentos constituem um problema que origina outros: “A obesidade por si só é doença e factor de risco para outras doenças, como problemas cardiovasculares, diabetes e hipertensão arterial”.

A solução para o problema da obesidade resolve-se com apoio profissional integrado. Para Alexandra Bento, “a doença tem que ser seguida no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”. Neste momento, existem cerca de 100 profissionais ligados à nutrição nos cuidados de saúde primários do SNS. No seu entender, o aumento para 200 traria resultados importantes na luta contra a obesidade e outras doenças associadas. Em resposta, Fernando Leal da Costa, secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, afirmou que o ministério pretende criar condições para aumentar o número de profissionais: “Não ignoramos que ainda temos algumas falhas que têm que ser colmatadas”.

Tendo como matriz o programa de alimentação norueguês de 1974, o PNPAS, com início em 2012, tem como objectivo prevenir a obesidade antes de ela aparecer. Aposta numa abordagem intersectorial entre entidades ligadas à saúde, agricultura e educação para um maior alcance na mudança de hábitos dos cidadãos. 
 

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