O Suão? Porque não?

Será sinal de idade afeiçoarmo-nos ao vento sul?

O Suão é um vento com má fama. Traz trovoadas e moscardos, enche-nos os pulmões de azoto e coze-nos os miolos ao vapor. Primeiro, provoca dores de cabeça. Mais tarde enlouquece. O Suão é um vento vilão.

O pior do Suão é dar-nos volta à cabeça. Bastam alguns dias de Suão e deixamos de poder raciocinar como os bons nortenhos que somos. Como nestes últimos dias, por exemplo. As águas do mar aqueceram. As calças compridas desaconselharam-se. Os fins de tarde redimiram-se.

E, de repente, aqui para nós que ninguém nos ouve, o Suão pode ser um diabo mas não é tão mau como o pintam. Será sinal de idade afeiçoarmo-nos ao vento sul? Será pouco patriótico fartarmo-nos, nem que seja apenas temporariamente, das nortadas que nos assolam desde que nascemos?

Os bichos gostam do Suão. Os andorinhões apanharam boleia dele para chegar mais cedo a Portugal, tendo ouvido que havia por aqui muito mosquito fresco à espera de ser deglutido. Os gatos passam as noites com os faróis dos olhos acesos e a garganta ao relento, dispensando o cachecol da própria cauda e concorrendo em campeonatos mirabolantes de fadistice.

Quem são os seres humanos para se atreverem a destoar deste universo? O Suão confunde Abril com Agosto e torna a Primavera numa prima direita do Verão. Não antecipa nem substitui o Verão: apenas pertence à família dele.

Noutros países com climas menos simpáticos o Suão poderá ser o mau da fita. Por nós, até pode ser. Em Portugal é, quando muito, um vento diferente. Que bem sabe.

Sugerir correcção
Comentar