Director exonerado: "O que me incomodou foi nunca ter sido questionada pelo ministério"

Graça Martins, a nova directora do Agrupamento de Escolas de Montalegre, diz que apresentou recurso da sua exoneração de subdirectora porque precisava de defender a sua dignidade.

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Professora é agora a directora Nelson Garrido

“Durante muito tempo tive que viver com a ideia: se ela foi exonerada é porque se passou alguma coisa”. Graça Martins, a nova directora do Agrupamento de Escolas Dr. Bento da Cruz, Montalegre, ainda hoje fala com alguma amargura dos tempos que passou quando soube que ia ser exonerada do cargo de subdirectora do agrupamento para o qual fora nomeada pelo seu marido, Paulo Alves, também ele, afastado da equipa directiva.

“Eu não usurpei funções nenhumas, não usei o cargo em benefício próprio, mas essa era a ideia que as pessoas interiorizaram quando souberam que eu ia ser afastada. Foi uma humilhação enorme”, conta a docente ao PÚBLICO que foi entretanto eleita - no final do ano passado - directora daquele agrupamento - o único na vila de Montalegre, no distrito de Vila Real, onde as notícias se espalham rapidamente.

Professora de Biologia e Zoologia há 22 anos, a nova directora diz que o “processo foi doloroso e deixou marcas que ainda não estão curadas”. “Foi um momento muito difícil para mim em termos de imagem pública porque a escola está inserida num meio relativamente pequeno, rural, e toda a gente sabia e quando me cruzava com as pessoas sentia-me pessimamente e um bocado diminuída”, desabafa, confessando que aquilo que verdadeiramente a incomodou foi nunca ter sido questionada pelo ministério. “O que mais em entristeceu mesmo foi saber que a tutela me estava a afastar sem nunca me ter ouvido”, declara, observando que a sua nomeação foi feita de acordo com “orientações” de quem tinha responsabilidades ao nível do Ministério da Educação.

“Fizemos aquilo que nos foi dito para fazermos"

“Fizemos aquilo que nos foi dito para fazermos daí que tenha ficado perplexa. É que depois de três anos de dedicação praticamente exclusiva à causa pública, a única coisa que tenho é uma exoneração”, lamenta a professora de 45 anos, recordando que o seu afastamento ocorreu em plenas férias do Natal, o que, sublinhou, tornou “tudo ainda mais difícil por causa dos seus dois filhos”. “Eu tinha sido exonerada e o Paulo tinha sido alvo de um processo disciplinar por causa da minha nomeação. Tudo isto em plena época natalícia foi duro”, acrescenta.

Mas em todo este processo, há um aspecto que Graça Martins nunca descurou que foi recorrer da decisão do ministério para o tribunal. “Por uma questão e honra”, diz. “Tinha que defender a minha dignidade, exactamente porque tinha a consciência da forma como as coisas foram feitas”, aponta. “O que me estava a acontecer era impensável e por isso recorri, nem que fosse a última coisa que eu fizesse. Eu teria de recorrer para o tribunal para limpar a minha dignidade e a dignidade do professor Paulo [Alves], porque foi ele que me nomeou”, declara. “De maneira nenhuma podia ver o meu nome manchado”, atira.

Pouco mais de três meses depois de ter apresentado a providência cautelar, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela manda a regressar ao lugar de subdirectora para o qual fora nomeada em Dezembro de 2011. Em Novembro de 2016 há eleições e o Conselho Geral escolhe-a para directora do Agrupamento de Escolas de Montalegre.

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