O estado da Educação

A Educação, sendo um dos pilares de qualquer país civilizado, encontra-se em condição de avançada ruína.

Foram divulgados os resultados dos exames nacionais do 12.º ano. Em relação ao exame de Português, que me diz directamente respeito (sou professora da disciplina, levei duas turmas a exame e classifiquei 50 provas), “não posso adiar a palavra”.

Após a grandemente divulgada fraude, no que respeita à fuga de informação sobre o enunciado da prova (o que vem acontecendo há anos, mas, desta vez, alardeado nas várias formas dos media), o ministro não procedeu à sua anulação, privilegiando todos os que, a priori, tinham conhecimento do seu conteúdo, que é como quem diz, contribuindo para a promoção dos “cábulas”. Depois veio justificar, dizendo que iriam ser punidos todos os responsáveis. E pronto! Não se falou mais no assunto. Como foram punidos? Como saber que ou quantos alunos beneficiaram da fraude?

As 50 provas que classifiquei mostram que os examinandos não tinham qualquer ideia sobre a matéria (os meus alunos tampouco), já que os resultados obtidos apresentam percentagem negativa de sucesso, proliferando valores de três, quatros, cincos, setes... Presumo, então, que, se a média a Português subiu 0,3 pontos em relação ao ano passado, a informação sobre o teor da prova tenha chegado a muitos alunos.

A verdade é que ninguém dos lesados reclamou! Nem alunos, nem encarregados de educação, nem sindicatos. Enfim, o povo português a deixar o seu destino nas mãos da sorte ou do azar. Como escreveu, um dia, no PÚBLICO, Eduardo do Prado Coelho, “com este povo anódino, tudo pode ser feito”, ou seja, toda a corrupção é permitida, ao abrigo da impunidade.

A propósito do teor do enunciado da prova, para além de, no texto de Alberto Caeiro, ter sido alterado o verso “Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem respira”, para “Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem não pensa” (abstenho-me de juízos de valor; a atitude fala por si), a temática do Grupo III (que tem o valor de 50 pontos, cinco valores, e que pretende que o aluno redija um texto de 200 a 300 palavras) não me aparece apropriada para adolescentes de 17 ou 18 anos. Dissertar sobre o papel da memória, argumentando, com exemplos, a partir de uma frase de Schopenhauer, não é para estudantes tão jovens, mais empenhados em descobrir a vida e as sensações do que em navegar nas lembranças, que não serão muitas. Eles estão a construir a memória! Com tantas obras de leccionação obrigatória, Saramago, Sttau Monteiro, Eça de Queirós, Almeida Garrett, António Vieira, Camões, seria de esperar algo em consonância. E há tanto a explorar nos textos destes autores!

Pensemos, então, nisto, mas mesmo como quem pensa. O pronome demonstrativo “isto” refere o estado da Educação que, sendo um dos pilares de qualquer país civilizado, se encontra em condição de avançada ruína.

 

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