“O doutoramento terá que ser o passo seguinte para o desenvolvimento dos politécnicos”

Nuno Mangas diz que se os institutos politécnicos se chamassem "universidades politécnicas" as pessoas olhariam de forma mais positiva para este sector.

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Há cerca de um mês houve uma tomada de posição de 13 presidentes de Conselhos Gerais de Institutos Politécnicos defendendo a capacidade de os politécnicos outorgarem doutoramentos. Este vai ser um tema marcante no seu mandato?
Espero que sim. Esta questão é central. Somos uma realidade muito recente do ensino superior em Portugal e tivemos nas últimas décadas uma evolução notável. O doutoramento terá que ser o passo seguinte para o desenvolvimento dos politécnicos.

O que é que existe hoje que não existia há 20 anos e que torna isso possível?
Houve um salto muito grande ao nível da qualificação do corpo docente dos politécnicos e que é a pedra basilar para que possamos hoje ter esta exigência. Hoje há também um conjunto de infra-estruturas científicas nos politécnicos e uma experiência de colaboração com as empresas e a sociedade que antes não existiam. As nossas empresas, instituições e territórios precisam que os politécnicos possam atribuir doutoramentos.

Qual é a dificuldade para concretizá-lo?
Neste momento, a limitação é legal. O facto de uma instituição se chamar instituto politécnico impede-a, por lei, e logo à partida, de poder atribuir o grau de doutor. A distinção não é feita com base na competência, mas naquilo que a lei permite que cada um dos subsistemas possa fazer.

O ministro Manuel Heitor já disse que estava contra essa possibilidade, ainda que num primeiro momento lhe tenha aberto a porta. Em que ponto estão essas conversas com a tutela?
Não conversei com o senhor ministro recentemente sobre esta matéria. O que estamos a procurar é construir um caminho para que isso seja possível. Nós não queremos fazer isto contra ninguém, queremos fazer isto com todos.

Importa explicar que doutoramentos querem os politécnicos ter.
O doutoramento teve uma evolução muito grande na última década e meia. Antes, eram sobretudo os professores das universidades e nos politécnicos que o faziam, mas hoje isso mudou por completo. Há uma grande vertente de aplicação de conhecimento e de preparação de pessoas altamente qualificadas associada aos doutoramentos e que é fundamental para as empresas e instituições. Nós propomos responder a esta nova necessidade, tendo em consideração as realidades de cada um dos territórios em que estamos.

E não podem ser as universidades a fazê-lo?
Há determinadas áreas de formação como a enfermagem, o turismo ou o design que, se não estão exclusivamente, estão maioritariamente nos politécnicos. Em algumas dessas áreas, os politécnicos têm as competências, o pessoal qualificado e a experiência, mas depois têm que se associar a uma universidade para que seja esta a atribuir o grau. Dou-lhe um exemplo: temos um conjunto de pessoas a fazer os doutoramentos nos politécnicos, com bolsas da Fundação para a Ciência e Tecnologia, mas que têm que estar formalmente inscritas numa universidade. Isso não faz sentido e tem que ser alterado.

Qual seria a mais-valia para quem procura um doutoramento?
A ligação ao território, às empresas, ao saber-fazer. Um doutoramento num politécnico terá uma componente mais aplicada. Tem-se falado muito em doutoramentos em empresas. Os politécnicos estão tão bem ou melhor preparados do que algumas das nossas universidades para fazê-los.

Quais serão as outras prioridades para o seu mandato?
Um dos grandes temas é o prosseguirmos este trabalho de afirmação e de consolidação das instituições na nossa sociedade. A internacionalização também é um desafio enorme, a diferentes níveis, quer ao nível da aplicação das melhores práticas no contexto europeu, quer ao nível da captação dos estudantes estrangeiros. Depois, a ligação à sociedade: as nossas instituições estão muito próximas das populações, das regiões em que se inserem, mas há que potenciar isso.

Os politécnicos ainda não ultrapassaram um certo preconceito sobre a qualidade da sua formação. Como é que se responde a isso?
Há uma representação social diferente do que são politécnicos e as universidades. Muda-se isso pela afirmação do trabalho das nossas instituições, mas também acho que a palavra instituto no nome das nossas instituições as menoriza. Esse era um problema que poderia ser ultrapassado.

A possibilidade de alteração da designação de instituto politécnico para universidade de ciências aplicadas já tinha sido defendida anteriormente. Vai voltar a ser uma luta do CCISP?
Há uma dimensão internacional, de comunicação em língua inglesa. Nos diferentes países europeus, as instituições mantêm o nome no país de origem, mas depois, no contacto internacional, designam-se como universidades de ciências aplicadas. Devíamos fazer o mesmo.

Seria precisa uma autorização do Governo para poderem usar essa designação ou é só uma questão de marca?
Era importante que existisse uma autorização para esse efeito e é uma das questões que está em cima da mesa. No contexto nacional, penso que uma designação como 'universidades politécnicas' provavelmente ajudaria a que as pessoas olhassem de forma mais positiva para o sector.

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