O SIRESP é uma teia (e ministra, ainda há?)

Cinco notas sobre o colapso do SIRESP. Uma nota breve sobre o que se passa na Protecção Civil. E uma pergunta: é Constança que leva a carta a Garcia?

1. O SIRESP não falhou, colapsou em Pedrógão Grande. Falhou o plano A. Depois falharam o plano B e C (que estavam avariados), e até falhou o plano D, um veículo que foi para Pedrógão, chegou cinco horas depois do que se previa e teve logo que mudar de sítio, porque ali também não dava.

2. O colapso do SIRESP no terreno é repetido: temos relatos de 2013, de 2014 e de 2016, quando alguém pediu um relatório, recebeu o relatório e, que se saiba, não lhe fez nada (porque agora os problemas foram os mesmos). 

3. O pior é que a alternativa existia, mas não estava equipada: conta o Expresso que o anterior Governo comprou, em Junho de 2015, duas carrinhas para as equipar com retransmissoras móveis da rede SIRESP - rápidas e eficazes. Só que até agora ninguém lançou o concurso. Diz o Governo ao Expresso que é desta, que está para breve. Melhor era não dizer nada.

4. O menor dos problemas do SIRESP é o das contas. O grande problema é que falha em alturas cruciais. E já não pode ser só por responsabilidade do SIRESP. Passa pela cabeça de alguém que, sabendo das falhas consistentes, ninguém trate de ter alternativas à mão?

5. E daí que se pergunte: o que é que tem o SIRESP, para que custe tanto mudá-lo? O Governo de Passos conseguiu renegociá-lo, mas demorou uma legislatura inteira. Mesmo sabendo que ele representava uma fatia enorme do orçamento do MAI, o corte de 25 milhões acabou por ser assinado apenas pelo Governo seguinte. Quando o PÚBLICO o noticiou, a direita enfureceu-se, não percebendo que o dedo estava apontado à empresa. Fernando Alexandre, o ex-secretário de Estado que decidiu denunciar o problema, foi clarinho como água: disse que o SIRESP construiu uma rede de interesses dentro do Estado, que tentou bloquear todas as mudanças e negociações. E sugeriu duas coisas: que alguém tente saber como está o plano de acção que deixou pronto para melhorar o serviço; e que o Estado pense em nacionalizar o serviço. Fernando Alexandre teve coragem e tem bons argumentos - mas parece que ninguém o ouve no que realmente interessa. O PSD enfiou a carapuça, o MAI fez orelhas moucas.

6. Face a tudo isto, António Costa mandou um despacho à sua ministra para lhe exigir que ela exija ao SIRESP um "cabal esclarecimento do ocorrido". Como quem pede ao senhor dos correios que entregue uma carta por email. A mesma ministra que tem muito para nos explicar sobre o que se passa na Protecção Civil (que graves são as notícias que lemos) e a quem o BE já exige um plano de emergência pronto até ao fim do mês. Mas alguém acredita que esta ministra leva a carta a Garcia?

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