O casal socorrido

O segredo dos casais é o fracasso das independências.

Um casal tem de ser vaidoso como casal. A noção antiga é de duas metades que se encontram. Não é da panela à procura de tampa. Desde quando é que a tampa é tão importante como a panela, para não falar na quantidade de coisas, como pratos, que fazem de tampas sem perda de qualidade?

O casal com sorte é uma sobrevivência. Não é tanto “eu não vivo sem ti” como “eu, sem ti, morria”. Ou já tinha morrido. Ou já não quereria viver.

Um casal é uma confissão de insuficiências. Como as mulheres são provavelmente melhores do que os homens, há um desequilíbrio que urge enfrentar o mais depressa possível. A grande compositora e cantora Melanie (Safka-Schekeryk), apesar de dezenas de canções maravilhosas desde ao anos 60 até agora, teve o único grande êxito com “Brand New Key” no Natal de 1971, o ano em que a obra-prima Songs Of Love And Hate de Leonard Cohen, com arranjos geniais de Paul Buckmaster, roubou esse ano inteiro, com razão e alma.

Melanie, mulher, tinha um par de patins novinhos em folha (a panela, 90% da questão) mas o rapaz com que engraçava tinha uma chave igualmente novinha. Nas palavras imortais que mostram a relação de forças entre os seres femininos e masculinos:

I’ve got a brand new pair of rollerskates/ You’ve got a brand new key/ I think we should get together/ And try them on to see

O segredo dos casais é o fracasso das independências: é a interdependência, humilhante mas verdadeira, de precisar de quem se ama.

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