Nuno Félix já tem a "sua" família síria em Lisboa

Caravana Famílias como as Nossas trouxe para Portugal cinco sírios que estavam em Viena, na Áustria, à espera de seguir para a Alemanha.

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Imagens dos refugiados levaram portugueses a agir ACHILLEAS ZAVALLIS/AFP

Uma família síria chegou neste sábado a Lisboa, depois de ter sido resgatada em Viena, na Áustria, por um grupo de portugueses que, a 25 de Setembro, decidiram pôr-se a caminho para trazer para Portugal alguns dos refugiados que se amontoam nas fronteiras do centro da Europa.

Em declarações à SIC, Nuno Félix, um dos organizadores da caravana Famílias Como as Nossas, indicou que o pedido de asilo para esta família já deu entrada no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). A família é composta por cinco elementos: Ali, o pai, Nada, a mãe, e as filhas Dimas, Inas e Rimas, com idades entre os 9 e os 5 anos.  

Nuno Félix conta que, em Viena, os interpelou com a ajuda de intérpretes sírios. “Perguntaram como era a minha família. E eu mostrei fotos”, relata este pai de quatro filhos.

Acrescenta que “no princípio estavam muito assustados”, mas que agora já não. Diz também que Nada lhe perguntou se podia usar o véu em Portugal e que ele respondeu pela afirmativa, acrescentando que a sua avó também o usava.

A saga desta caravana foi acompanhada também, entre outros, por jornalistas da revista Visão. Na tarde de quarta-feira, 30, quando os elementos da iniciativa Famílias Como as Nossas conheceram Ali, a mulher e as suas três filhas, na estação central de Viena, já os quatro haviam percorrido quase toda a rota habitual dos refugiados sírios. Só lhes faltava chegar à Alemanha”, escreveu Rosa Ruela nas reportagens que foi enviando para Portugal. E onde também descreveu do que foi feita a viagem da família de Ali até Viena.

Como muitos outros refugiados, saíram da Síria rumo à fronteira com a Turquia: “Ali levou uma das filhas às cavalitas e Nada empurrou um carrinho de bebé. Foram cinco horas de caminhada através das montanhas, integrados num pequeno grupo que se juntou a mais 200 pessoas interessadas, como eles, em fazer a travessia até à Grécia”. Depois foi a travessia do mar Egeu, que demorou duas horas e meia. Da Grécia seguiram para a Macedónia, depois para a Sérvia, de seguida atravessaram a Croácia, a Hungria e chegaram à Áustria. “Estavam há apenas quatro horas na estação central de Viena quando Nuno Félix os convidou a trocarem o destino final” conta a jornalista da Visão. Em vez da Alemanha, Portugal. Aceitaram.

A caravana, com seis carros e 12 pessoas, partir de Lisboa a 25 de Setembro. Na altura, Nuno Félix contou ao PÚBLICO o que o levou a agir. Os quatro filhos viram as imagens de sofrimento dos refugiados passar vezes sem conta na televisão e perguntaram por que ninguém os ajudava. Nuno resolveu dizer-lhes que ele, como pai, os iria ajudar.

Conduziu mais de seis mil quilómetros, de ida e volta, gastando mais de mil euros em combustível e em portagens. “Sou pai, vou dar o exemplo. Não basta ensinar. Os Estados estão a demorar muito tempo. Quero provar que se uma pessoa quiser pode ajudar”, disse, para acrescentar: “Não quero ter vergonha de ser europeu, nem de ser português”.

De Portugal seguiu também outra caravana com 50 toneladas de alimentos e roupas para serem distribuídos aos refugiados que se encontram à espera de seguir caminho na Croácia. Os bens começaram a ser distribuídos a 22 de Setembro com a ajuda da Cruz Vermelha da Croácia.

“Esta ajuda vinda de Portugal é muito útil porque não esperávamos tanta gente e precisamos de grandes quantidades em muito pouco tempo. Muitas pessoas se têm oferecido para ajudar, enquanto indivíduos, mas o povo português é o primeiro a oferecer ajuda de uma forma organizada e com esta escala e dimensão", declarou à Lusa Sanja Pupacic, do departamento de Migração e Asilo da Cruz Vermelha da Croácia.

A ideia desta caravana partiu de uma troca de mensagens entre amigos no Facebook, após a divulgação da fotografia do corpo de Aylan, o menino sírio de 3 anos que deu à costa numa praia, depois de ter morrido num naufrágio no Mediterrâneo quando tentava alcançar a Grécia com a família. Em sua homenagem decidiram que Aylan seria também o nome da caravana de apoio aos refugiados.

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