Nostalgia da infância

Amigos, estamos quase em Agosto, o coração sufocante do ano, por isso soltem o cabelo, descalcem-se e gritem algo que costumavam sussurrar. Libertem-se!

Sempre achei que não podemos tratar o Verão como uma carruagem que mecanicamente apanhamos, adormecemos com a cara esborrachada contra uma janela turbulenta e saímos, a correr, na nossa paragem, sem olhar para trás. Algo remoto, distante e que não nos pertence. Nunca vi esta estação assim, para mim ela tem os movimentos frenéticos de David Bowie, é um ser mítico, divinal talvez, que nos oferece o tempo suficiente para nos perdermos dentro dos recantos mais selvagens e insubmissos, para desejarmos, arriscarmos, cairmos, sonharmos de novo. Se calhar estou errado, mas prefiro errar à luz canibal daquela bola de fogo que se alimenta do fervoroso mar da Ericeira, do que abrigado num insípido toldo branco enquanto as chuvas torrenciais de Abril inundam as ruas de Alcântara.

Lembrei-me agora, Verão rima com viajar (espera... faz de conta que sim), e não há sentimento melhor do que pôr uma mochila às costas e lançarmo-nos à estrada, nem que seja para apanhar Pokémons (para ser sincero, gostava de conseguir instalar a aplicação, mas o meu telemóvel só tem 8GB e se nem a minha playlist de kizomba cabe dentro de um pequeno ecrã quanto mais um Verão inteiro). É curioso, cómico até, como há algo de nostálgico em mim acerca de todo esse universo. As memórias dos intervalos passados a trocar cartas e a jogar Gameboy na primária invadem-me os olhos de saudades. Por isso joguem, se vos faz feliz! Mas façam amigos pelo caminho, festejem até ser dia, mergulhem no caloroso olhar das férias. Joguem, mas descubram primeiro as fascinantes aventuras que vos rodeiam antes de irem à procura de animais virtuais, aprisioná-los em pequenas bolas e forçá-los a lutar uns contra os outros. 

Lembro-me de falar com um amigo meu e ele me contar como, em criança, acordava cedo para ver a série com o irmão e como isso os uniu; até pediam à mãe para lhes ler o nome dos Pokémons, tantas vezes que os quase decorou todos. Quando ele me disse isso, estávamos a passar wax nas pranchas, sentados nas ruínas de um antigo café na praia de S. Sebastião. Nesse momento, passou a correr uma menina de cabelos dourados, parou por um momento, ergueu o braço e deixou-se consumir pela sua imaginação, dançando e saltando pelos vibrantes grãos de areia. Fitando-a, um inocente sorriso rasgou os meus lábios e transportei-me, uma vez, mais para a minha infância. Um tempo em que vivia rodeado de histórias fantásticas, frenéticas e heróicas aventuras. O mundo era uma pequena peça de puzzle no meu pensamento cósmico. Porém, a idade atingiu-me com a sua seta perfumada por responsabilidades, tarefas e compromissos, mas também liberdade. E hoje em dia, a melhor forma de exercer essa minha impetuosa conquista é no surf; na descoberta da infinita costa morena, na adrenalina eufórica de vagabundear os meus dedos pela crista da onda.

Amigos, estamos quase em Agosto, o coração sufocante do ano, por isso soltem o cabelo, descalcem-se e gritem algo que costumavam sussurrar. 

Libertem-se!

A faculdade está a chegar e tenho quase a certeza de que não vão poder completar a vossa "Pokédex" na sala de aula. 

18 anos, à espera de ingressar no ensino superior

 

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