No Porto, concentrou-se revolta e sede de mudança

O movimento “Mexeu com uma, mexeu com todas” ocupou metade da Praça dos Leões. Vozes e cartazes feministas reafirmaram o significado de "não".

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Adriano Miranda
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Gritada a plenos pulmões, escrita no peito, braços ou levantada em cartazes, a mensagem era clara: “Não à cultura da violação”.

Nesta quinta-feira, a pacata Praça dos Leões, no Porto, onde o som costuma ser dos skates a deslizar e dos turistas a linguajar, foi palco da concentração “Mexeu com uma, mexeu com todas”. O movimento, que se ergueu uma semana após a divulgação de um vídeo que retrata um presumível caso de abuso sexual num autocarro no Porto, espalhou a iniciativa por cinco pontos do país: Porto, Braga, Coimbra, Lisboa e Faro.

Patrícia Martins, uma das organizadoras no Porto, revela que a iniciativa surgiu “a partir do vídeo que foi divulgado na comunicação social e por todos os comentários gerados a partir daí”. Mas ressalva: “O foco desta concentração não é o caso desta rapariga. Isso seria instrumentalizá-la e nós queremos protegê-la”.

O objectivo do movimento foi, sim, “denunciar o número de mulheres que são vítimas de violência doméstica, que são assassinadas pelos seus parceiros ou ex-parceiros, o assédio público, moral e sexual nos contextos de trabalho e outros”, explica a também activista da organização Parar o Machismo, Construir a Igualdade.

Esta é a terceira mobilização de 2017 que reclama a igualdade e a afirmação dos direitos das mulheres. Já não é a primeira em que Liana e Tamara participam. Nesta quinta-feira, chegaram mais cedo, ainda os gritos e os cartazes não se tinham levantado. Sobre os motivos da concentração, Liana esclareceu: “Isto foi acelerado pelo vídeo publicado, mas é uma questão muito maior. Estamos aqui por nós todas”. Para Tamara, o argumento é ainda mais pessoal: “Eu estou aqui porque sou assediada todos os dias, porque os homens acham que a vontade sexual deles vale mais do que o meu não, o meu silêncio, a minha bebedeira”.

Tiago decidiu aparecer na Praça dos Leões pelo “respeito às mulheres”. “Ao longo do meu percurso, eu vi vários comportamentos destes [de violação]. De certa forma não são aceites, porque são criminalizados, mas são tolerados pela sociedade”, disse.

Os ponteiros do relógio avançaram para a hora marcada e os apitos fizeram-se ouvir. Houve música e microfone aberto para dar voz a todos os que sentiam ter algo a dizer. Nos cartazes levantados liam-se: “Um decote não é um convite!”, “Não é Não!”. Pessoas de todos os géneros e idades ocuparam metade da praça e encheram a totalidade dos pulmões, para gritar alto e a bom som.

Em frente ao edifício da reitoria da Universidade do Porto, sentiu-se sede de mudança. “Temos uma cultura machista bastante enraizada, em que os homens se sentem legitimados a tomarem discursos que inferiorizam as mulheres. Este é o momento das pessoas perceberem que estamos a sair à rua e, por isso, isto tem de mudar”, afirma Patrícia.

Foram mais de 50 entidades que apoiaram a iniciativa. Na longa lista, encontram-se partidos políticos, o Bloco de Esquerda e PAN, associações de estudantes, colectivos feministas e inúmeras associações de activistas como a ILGA Portugal, Precários Inflexíveis e SOS Racismo.

Texto editado por Victor Ferreira

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