Neve em Monchique

Gosto da força do vento tanto como detesto a rectidão moral da chuva.

No fim-de-semana Fevereiro vingou-se à grande. Espero que o mês de Março não tenha visto. Março é muito maria-vai-com-as-outras. É, por definição, um mês bélico e traiçoeiro. A Primavera só consegue arrancar quando Março se deixa distrair, já o mês vai muito entrado e é quase Abril.

Mesmo assim, às oito e tal da manhã de sábado, o sol saiu e o céu azulou de um momento escuro, chuvoso e barulhento para o outro, calado, seco e luzidio.

Aqui em Almoçageme, como em tantos outros lugares deste país tão bonito, viciante, irresolúvel e estapafúrdio, falámos das memórias de neve na serra de Sintra.

A neve mais interessante é a passageira. É aquela que só dura uma hora ou duas e que exige que se suba umas centenas de metros para apreciá-la. Feliz é o povo que tem de fazer um esforço imenso para conhecê-la, só pelo prazer da novidade e da consequente bisbilhotice acerca dela.

A serra de Monchique é única e linda no mundo, em Portugal e no Algarve. Ter lá nevado – e não aqui em Colares, onde estávamos tão ansiosos e preparados para isso – é uma prova de que Portugal é o maior país pequeno do mundo e que o nosso clima é o mais desobediente às noções habituais de Norte e Sul.

Gosto da força do vento tanto como detesto a rectidão moral da chuva. No sábado tive a sorte de ser assaltado, quando voltava a casa depois de uma excursão selvática para obter frangos assados para enfrentar as tempestades, por um blitzkrieg de granizo.

Foi emocionante. Só aqui.

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