Nenhum hospital operou todos os doentes com fractura na anca nas primeiras 48 horas

Meta é considerada a nível internacional um importante indicador de qualidade para avaliar os serviços de saúde. Administração Central do Sistema de Saúde começou a medir este indicador num novo portal que acaba de lançar e que compara dados de vários hospitais em muitos temas.

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A tutela tem feito orçamentos rectificativos para ajudar os hospitais a saldar as dívidas Paulo Pimenta

Internacionalmente a meta é considerada um importante indicador de qualidade para avaliar os serviços de saúde: conseguir operar todos os doentes com uma fractura na anca nas primeiras 48 horas após o internamento no hospital, salvo excepções, em que por alguma razão clínica não tenha sido possível estabilizar o utente. Contudo, em Portugal, nenhuma das unidades conseguiu sequer ultrapassar os 90% no primeiro trimestre de 2013, existindo mesmo casos de hospitais que pouco passaram dos 10%.

A Unidade de Saúde Local do Nordeste foi a que teve melhor desempenho, com 88,24% das pessoas operadas neste prazo, enquanto na cauda da lista fica o Hospital de Santa Maria Maior, em Barcelos, com 10,71%. Pelo meio ficam grandes hospitais como o Centro Hospitalar do Porto (75,76%), São João (52,44%) ou Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente), com 40,94%. Entre as parcerias público-privadas destaca-se o Hospital de Cascais (77,19%), enquanto o Hospital de Braga se fica pelos 20,93%.

Os dados fazem parte do novo portal criado pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) para comparar alguns indicadores das várias unidades hospitalares do país que pertencem ao sector empresarial do estado ou que são parcerias público-privadas. O portal dá dados tanto de acesso a consultas dentro do tempo adequado, como números das cirurgias feitas em ambulatório, internamentos que demoram mais do que 30 dias, entre outros. Alguns já eram recolhidos, mas o da fractura da anca é integrado pela primeira vez, já que esta patologia afecta sobretudo as pessoas mais velhas e, além da dor e recuperação, quanto mais tempo estão internadas maior risco têm de contrair uma infecção hospitalar – um dos problemas com que Portugal também se debate.

Numa primeira fase, o objectivo desta ferramenta de benchmarking, segundo explicou Alexandre Lourenço, da ACSS, é sobretudo estimular que as instituições reportem melhor os dados, já que se têm encontrado algumas incorrecções. “A informação melhora substancialmente a partir do momento em que os dados são públicos”, defendeu. Depois, as unidades, em parceria com a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, vão organizar algumas formações e workshops com o objectivo de trocar experiências entre as que são mais parecidas, perceberem quem está a ter melhor desempenho e como se podem organizar para evoluir.

“A primeira queixa das unidades é que os dados não correspondem aos que vêem no terreno, mas esta ferramenta ajuda a perceber que o que não registam não existe. Mas também há profissionais que reconhecem a oportunidade de melhoria contínua deste sistema”, acrescentou, por seu lado, a presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Marta Temido.

Na vertente da produtividade, no portal o cidadão poderá ficar a saber desde as demoras médias de internamento face ao esperado (e comparar esses valores com os melhores hospitais ibéricos), conhecer as taxas de ocupação das camas dos hospitais, ou quanto tempo alguém aguarda internado por uma cirurgia programada quando o máximo deve ser 24 horas. Do lado económico-financeiro, a ferramenta permite ver desde os custos médios por doente, os custos com medicamentos por doente, a despesa com um médico ou enfermeiro por doente ou até quanto se gasta em horas extraordinárias.

Liberdade de escolha?
Questionado sobre a possibilidade de alguns utentes, confrontados com os dados, não quererem ser tratados nos hospitais com pior desempenho, Alexandre Lourenço sublinhou que a questão da mudança será sempre uma decisão política, mas reconheceu que “existe a possibilidade de que a prazo se avance para uma liberdade de escolha informada”. Aliás, a ACSS está a preparar alguns indicadores para 2015 relacionados com a área oncológica, VIH/sida e esclerose múltipla, que poderão ter como consequência dar alguma liberdade ao utente – um caminho que o ministro da Saúde, Paulo Macedo, tem defendido, mas sem calendarizar.

A actualização do portal será trimestral, ainda que sejam feitas alterações sempre que necessário – já que até agora o que existia era um relatório anual que permitia apurar melhor os números, mas que travava o acompanhamento dinâmico. Para a comparação ser mais justa, os hospitais estão divididos em cinco grupos distintos, consoante a dimensão e a complexidade dos serviços que prestam.

Por exemplo, num dos grupos estão isolados os três institutos portugueses de oncologia (IPO). E há um grupo só com os maiores hospitais, como os centros hospitalares de Lisboa Central, do Porto, de Lisboa Ocidental, de São João, Universitário de Coimbra e de Lisboa Norte, não só pelo número de casos tratados, mas também pela complexidade e/ou gravidade dos mesmos. Alexandre Lourenço lembrou que há indicadores onde não se espera que hospitais de grupos diferentes atinjam o mesmo patamar, como por exemplo o custo médio por doente tratado ou a redução do número de cesarianas, já que há unidades que acompanham mais casos de risco.

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