Negro como a mina

Carvão de Aço é o regresso em forma de livro do fotojornalista do PÚBLICO Adriano Miranda às minas do Pejão, um trabalho que começou há um quarto de século, no fundo dos túneis.

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Minas do Pejão, 1992 Adriano Miranda/Público
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Entrada para o interior da mina Adriano Miranda/Público
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O elevador, conhecido por "jaula", descia a 420 metros de profundidade Adriano Miranda/Público
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Interior da mina Adriano Miranda/Público
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A extração do carvão era um trabalho muito duro Adriano Miranda/Público
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Nos inclinados os picadores faziam a desmonta Adriano Miranda/Público
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Os mineiros almoçavam no interior da mina Adriano Miranda/Público
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Traziam de casa marmitas térmicas que eram penduradas em sacos por causa das ratazanas Adriano Miranda/Público
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O carvão era transportado em vagonetas até ao exterior Adriano Miranda/Público
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O pó era um dos maiores inimigos para os pulmões dos mineiros Adriano Miranda/Público
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A fé acompanhava sempre cada dia de trabalho Adriano Miranda/Público
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Na mina só existia a luz dos gasómetros Adriano Miranda/Público
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No fim de sete horas de trabalho intenso desejava-se chegar o mais rápido possível ao exterior Adriano Miranda/Público
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Várias oficinas davam apoio técnico Adriano Miranda/Público
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Na lavaria selecionava-se o carvão Adriano Miranda/Público
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Na lavaria selecionava-se o carvão Adriano Miranda/Público
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O carvão era transportado num teleférico até à Central Termo-eléctrica da Tapada do Outeiro Adriano Miranda/Público
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Os turnos eram rendidos às 15 horas Adriano Miranda/Público
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Era um desejo comum ver a luz do sol Adriano Miranda/Público
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Os mineiros saiam transpirados, molhados e sujos Adriano Miranda/Público
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No balneário todos tomavam banho Adriano Miranda/Público
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Calhou a Carbonífera do Douro ter-lhe respondido. Adriano Miranda, então com 26 anos, queria fotografar o trabalho infantil que se dizia à boca pequena povoar várias empresas e fábricas portuguesas. Estava-se em 1992 e o fotojornalista do PÚBLICO era ainda estudante da Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, onde acabaria por deixar morrer o sonho de se tornar escultor, trocando-o por uma máquina fotográfica. Mandou cartas para várias empresas do distrito de Aveiro, de onde é originário, a ver se alguma lhe abria as portas e o deixava descobrir, atrás de uma delas, as tais crianças trabalhadoras. Calhou que a única empresa que lhe respondeu foi a Carbonífera do Douro, a que geria as minas do Pejão, onde não desciam crianças.

Nem crianças, nem ele, imaginava Adriano no primeiro dia em que se apresentou no couto mineiro. De tal modo, que levou a mãe com ele. “Para me fazer companhia”, recorda, hoje, sorridente. Emília acabaria por receber, como ele, o equipamento necessário para acompanhar os mineiros que se preparavam para mais um dia de trabalho: capacete com lanterna, fato-macaco, lenço, luvas. Quando estavam prontos, mãe e filho juntaram-se aos trabalhadores e desceram. “Ela havia de ir ainda mais duas vezes”, conta Adriano, que ainda se recorda bem daquela primeira segunda-feira que passou no Pejão, há 25 anos. “Primeiro, fiquei incrédulo quando me disseram que era para descer. Pensei que, por questões de segurança, não descesse. Depois, regra geral, não deixam descer mulheres, porque dizem que dá azar, mas os mineiros ali não acreditavam nessas coisas.”

Lá em baixo, Adriano descobriu o mundo da escuridão literal, em vez da escuridão do trabalho infantil que se imaginara a retratar. Apegou-se àqueles homens duros, que enfrentavam a descida a mais de 400 metros de profundidade num elevador a que chamavam jaula; que trabalhavam sem ver a luz, em túneis que, por vezes, não tinham mais do que um metro de altura; e que saíam de rostos pintados pelo carvão que extraíam lá em baixo, tornado mais negro pelo contraste dos sorrisos brancos que alguns exibiam.

É esse mundo negro, mas de homens fortes, que Adriano Miranda recorda agora no livro Carvão de Aço que será lançado, nas antigas minas do Pejão, amanhã, 1.º de Maio. Um objecto tão negro como as minas, em que os únicos brancos parecem ser as luzes das lanternas ou os olhos e os dentes dos mineiros. Um mundo a que Adriano continuou a voltar ao longo de três anos, quando o trabalho da Ar.Co já estava entregue e ele ficara conhecido como “o fotógrafo dos mineiros”, conta. O negro é propositado. Aliás, tudo tem um propósito muito claro nesta obra, que, conta ele, “esteve para nascer várias vezes”, mas precisou de um quarto de século para se tornar realidade. O lançamento será no Poço 1 de Germunde, em Pedorido, Castelo de Paiva, nas próprias minas, que encerraram a 31 de Dezembro de 1994. O Dia do Trabalhador foi escolhido pelo seu simbolismo. As fotografias estão organizadas no sentido de acompanhar um dia de trabalho dos mineiros, desde o momento em que desciam à mina até regressarem. “Os mineiros, ao ver o livro, vão voltar a descer à mina, como faziam há 25 anos, vão rever o antigo dia de trabalho”, diz Adriano.

Quando surgiu o convite da Câmara de Castelo de Paiva para, aproveitando fundos comunitários do programa Adrimag, tornar o sonhado livro numa realidade, Adriano Miranda não perdeu tempo. “Era agora ou nunca”, conta. Debruçou-se sobre as cerca de duas mil imagens guardadas em negativos, captadas quando tinha ainda “um olhar limpo, sem vícios” e escolheu cerca de 130, com o olhar “amadurecido” que hoje tem. O resultado é este objecto negro que será oferecido aos antigos mineiros e poderá ser comprado por outros interessados, desenhado pelo atelier portuense Gráficos Associados. “Não é mais do que um tributo. Uma homenagem àqueles homens”, resume Adriano.

O fotojornalista do PÚBLICO, que diz cansar-se rapidamente dos trabalhos que tem em mãos, vai reencontrar antigos mineiros e, neles, reencontrar também quem ele próprio era há 25 anos. “Tenho muito pouco orgulho nos trabalhos que faço, mas neste, sim, tenho muito orgulho”, diz.

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