Na escola de Arga e Lima espera-se por uma nova “boa fornada” de resultados

Primeiro dia. Prova de Português. Fomos falar com alunos e professores de um escola de Viana do Castelo que, no ano passado, se distinguiu no chamado "ranking do sucesso". A gramática e a composição podem ser os maiores problemas de quem nesta segunda-feira fez exames.

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Nesta escola há a “esperança” de que se “alcancem bons resultados” Lara Jacinto

Sandrina Brito parece mais nervosa do que os seus alunos. “Atenção aos acentos, João”, grita no último instante, antes de ver os estudantes subirem as escadas. A professora aproveita os minutos que antecedem o início do exame nacional de Português, o primeiro deste ano lectivo, realizado nesta segunda-feira, para dar as últimas dicas aos pupilos. Esta foi a disciplina em que a escola de Arga e Lima, no concelho de Viana do Castelo, teve melhores resultados no ano passado, ajudando a fazer desta a quarta melhor do país no “ranking do sucesso”. Mas nem por isso a docente relaxa: “Fico sempre ansiosa por causa deles.”

Três horas depois, quando todos os alunos que fizeram a prova tinham já saído da escola, Sandrina Brito ainda não tinha descomprimido por completo. O exame de Português “não era difícil”, mas o Grupo II, com as questões de gramática, partia de um texto “muito denso” que lhe tinha provocado “algumas dúvidas”. “Vamos ver…”, respondia a medo, quando se lhe perguntava se os resultados deste ano na escola podiam ser tão bons como os do ano passado.

Em todo o país, 79 mil alunos do ensino secundário estavam inscritos para o exame nacional de Português, o primeiro deste ano lectivo e o mais concorrido. Menos de cinco mil faltaram à chamada. Neste nível de ensino também houve provas de Português Língua Não Materna e Filosofia. A primeira fase dos exames nacionais termina dentro de uma semana, com Geometria Descritiva e Literatura Portuguesa. A segunda fase acontece de 19 a 24 de Julho.

O início das provas nacionais foi tranquilo na escola de Arga e Lima. Ali estudam, entre o 5.º e o 12.º ano, 600 alunos. Só há duas turmas a fazer exame a Português, totalizando 35 alunos inscritos. Não há, por isso, grandes acumulações de jovens à porta da zona de exames, nem antes nem depois da prova. À entrada, tranquilidade. À saída, duas respostas que se repetiam: “não era difícil”; “correu bem”.

No ano passado, a escola de Arga e Lima foi a quarta melhor escola — e a segunda do ensino público — no “ranking do sucesso”, construído a partir de um indicador fornecido pelo Ministério da Educação que permite saber qual a percentagem de alunos que não chumbaram nem no 10.º ano nem no 11.º e tiveram positiva nos exames do 12.º ano. É um "ranking alternativo" ao tradicional (oque simplesmente ordena as escolas em função das notas nas provas nacionais). De acordo com os dados disponibilizados pelo Ministério da Educação, aqui 43% dos alunos tiveram percursos “limpos”. “Tivemos uma boa fornada de alunos”, justifica o director, Manuel Agostinho Gomes.

Uma composição sobre a memória

E este ano, como é a “fornada”? “Poderá ser um ano de eleição”, antecipa Gomes. As notas internas (atribuídas pelos professores da escola ao longo do ano lectivo) no ensino secundário foram ainda mais elevadas e as duas turmas do 12.º ano estão cheias de “gente trabalhadora e motivada”, descreve o director. Há, por isso, a “esperança” de que estes alunos “alcancem bons resultados”.

Hermenegildo Costa, o professor que partilha com Sandrina Brito o ensino de Português aos alunos do 3.º ciclo e do secundário, também mostra confiança: “Estou à espera de um bom comportamento, sobretudo no Grupo I”, em que se testa a compreensão e interpretação de textos.

Este ano, as escolhas dos examinadores foram um poema de Alberto Caeiro — “supostamente o mais fácil dos heterónimos de Fernando Pessoa”, dizia, confiante, o aluno Rafael Guedes — e um texto extraído de Vergílio Ferreira — Fotobiografia (org. de Helder Godinho e Serafim Ferreira, ed. Bertrand), que apanhou alguns desprevenidos. “Estava a contar com uma das obras do programa”, comentava Milene Farias, uma das primeiras a terminar o exame.

Para o professor Hermenegildo Costa havia um outro motivo de inquietação, o grupo da composição. A partir de uma citação do filósofo Schopenhauer, era pedido aos estudantes que produzissem um texto memorialista: “Nem sempre é muito fácil fazer um exercício retrospectivo para alguém que tem 16 ou 17 anos.”

Português foi o melhor resultado da escola de Arga e Lima nos exames do ano passado, com uma média 11,45 valores, que a colocaram como a 140.ª melhor média nacional na disciplina, em cerca de 600 escolas. O resultado é fruto de um trabalho transversal, dizem os professores. A direcção e o conselho pedagógico repetem uma frase que por aqui todos interiorizaram: todo o professor é professor de português.

Em Arga e Lima, “não se faz trabalho específico de última hora”, assegura o director da escola. Desde o final das aulas, os dois professores de Português disponibilizaram-se a dar apoios ao estudo aos alunos que estão inscritos no exame, mas, a avaliar pelas respostas dos estudantes no final da prova, poucos foram os que recorreram a essa solução.

Pior no 9.º ano

No ranking global do ensino secundário (que se baseia nas notas das oito disciplinas com mais alunos inscritos), esta escola localizada na freguesia de Lanheses surge no 243.º lugar (em 600), com uma média de 10,48 valores, o que significa que está acima da média nacional. Os resultados, de resto, melhoraram face ao ano anterior. Motivos de orgulho.
Mas no 9.º ano, os resultados são inferiores: o estabelecimento é o 645.º nacional (em 1200 escolas) e tem uma média negativa (2,65 valores). São “maus resultados”, reconhece Manuel Agostinho Gomes e “um pouco difíceis de explicar.”

A escola tem alunos desde o 5.º ao 12.º ano. A esmagadora maioria faz ali todo o percurso escolar e, no 3.º ciclo e secundário, os professores das principais disciplinas são habitualmente os mesmos. Para o director da escola, tudo se resume a uma questão de motivação: “Quando chegam ao secundário, os estudantes percebem que têm direito de entrar numa universidade, mas que, para isso acontecer, têm que trabalhar.” No ano passado, todos os alunos que terminaram o secundário foram para o ensino superior. Dois terços destes entraram no curso que escolheram como primeira opção.

Gabriela Sousa quer ir estudar Direito para a Universidade do Minho. Antes do início do exame de Português, as suas mãos tremiam, literalmente. “Estava chorando quase”, confessa, depois da prova, já com um sorriso no rosto. O gerúndio e o sotaque não deixam margem a equívocos. Gabriela nasceu no Brasil, onde viveu até há um ano e um mês. Trocou Maringá, cidade de 400 mil habitantes no Norte do estado do Paraná, por Lanheses, a aldeia de 1700 habitantes, onde viviam os avós e à qual os pais quiseram regressar.

Quando chegou a Portugal era já demasiado tarde para se preparar convenientemente para os exames nacionais. Por isso, nesta segunda-feira, além da prova de Português, de manhã, teve que fazer também o exame de Filosofia do 11.º ano, de tarde. Precisa das duas disciplinas para entrar em Direito, mas a média de 15 valores deve ser suficiente para conseguir uma vaga. “Desde que não corra nada mal nos exames.” E o de Português correu mal? “Não, correu muito bem. Até melhor do que esperava.”

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