Depressão leva mulher a atirar-se ao rio com filho mais velho ao colo

Operação de busca para encontrar criança de seis anos foi suspensa pouco depois das 20h. Mulher foi resgatada e está livre de perigo.

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As autoridades estão no local à procura do menor, que terá cerca de cinco anos de idade Rui Farinha/Nfactos
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Uma mulher de 37 anos atirou-se nesta sexta-feira, com o filho mais velho ao colo, de uma ponte sobre o rio Cávado, em Barcelos. O menino, de seis anos, está desaparecido e a operação de busca no rio, que decorreu durante toda a tarde, foi suspensa pouco depois das 20h e será retomada pelas 8h deste sábado. A mãe foi retirada do rio com vida e está no Hospital de Braga livre de perigo. A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar o caso.

A assessora de imprensa do hospital, Elisabeth Ferreira, adiantou ao PÚBLICO que a mulher está consciente e estável. "A senhora não corre risco de vida, mas vai manter-se em vigilância no serviço de urgência", informou.

A Procuradoria-Geral Distrital do Porto anunciou esta tarde que o Ministério Público abriu um inquérito ao caso, adiantando que a mãe é suspeita de um crime de homicídio qualificado. "Relativamente à criança que se encontra desaparecida, apurou-se que não está pendente ou arquivado processo de natureza tutelar cível ou de promoção e protecção, quer no tribunal, quer na Comissão de Protecção de Crianças e Jovens da área da sua residência", adianta numa nota publicada no site da instituição.

A mulher, que tem um filho mais novo, foi resgatada por um pescador amador que possui um barco de recreio e vive perto da ponte de Santa Eugénia, onde tudo aconteceu. “A minha irmã ligou-me e, como tinha as chaves no bolso, fui a correr para o barco”, contou Carlos Silva ao PÚBLICO. “Em pouco mais de cinco minutos tirei a senhora da água. Ela estava inconsciente”, disse o pescador, que não chegou a ver a criança na água.

Foi transportada para terra e depois socorrida pelos bombeiros e por elementos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Apresentava sinais de hipotermia. "Foi considerada um ferido grave", precisou um elemento do gabinete de comunicação do INEM ao PÚBLICO.

Buscas suspensas

Divorciada, a mulher vive há vários anos com o actual companheiro, pai dos dois filhos, e estaria a passar por um período depressivo, tendo já tentado matar-se antes. O pai do menino e outros familiares estiveram no local e, devido ao choque, tiveram que ser encaminhados para o quartel dos bombeiros de Barcelos, onde receberam apoio psicológico das equipas do INEM.

A mulher é funcionária de uma pastelaria e o casal residiria na freguesia de Arcozelo, perto da cidade de Barcelos. Um carro da família que se encontrava estacionado na ponte esteve, durante a tarde, a ser analisado por elementos da PJ.

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Os bombeiros instalaram uma rede no rio Cávado, junto à ponte medieval de Barcelos, cerca de um quilómetro abaixo do local da queda, para impedir a passagem da criança e limitar a área das buscas. Três equipas de mergulhadores estiveram no local a passar o fundo do rio a pente fino. "A operação de busca foi suspensa pouco depois das 20h e será retomada amanhã às 8h", adiantou o adjunto de comando dos Bombeiros Voluntários de Barcelos, José Simões.

O assessor do INEM precisou que foram enviados para o local duas Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) e uma Unidade Móvel de Intervenção Psicológica de Emergência. O alerta foi dado às 12h40 por um particular, segundo informações do Comando Distrital de Operações de Socorro de Braga.

“Evitar que os filhos sofram”

Sem conhecer as circunstâncias concretas deste caso, a psicóloga Bárbara Figueiredo, autora de vários trabalhos académicos na área das depressões pós-parto, recorda que situações como esta envolvem sempre “uma depressão profunda em que, de alguma forma, a mãe leva o filho com ela porque acha que dessa forma ele não terá que suportar o grande mal-estar que é para ele viver neste mundo”.

“A mãe não quer matar o filho, quer salvá-lo da dificuldade que é viver”, enfatiza a professora e investigadora na Universidade do Minho, para acrescentar que a estes casos subjazem sempre “depressões com sintomatologia psicótica e uma percepção distorcida da realidade”. “Quase sempre, o que estas mulheres procuram é evitar que os filhos sofram num mundo que se lhes afigura como terrífico”, insiste, para ressalvar que, embora não constituam a regra, também há filicídios que se afiguram como “actos de vingança”, perpetrados no contexto de situações de divórcio ou de regulação de responsabilidades parentais.

Só este ano já aconteceram três casos de mulheres que matam os filhos, tentando ou concretizando o seu suicídio. Em Fevereiro, uma mulher atirou-se ao rio Tejo com as duas filhas, de quatro anos e 18 meses. A mulher estava separada e em litígio com o companheiro, de quem se queixara de violência doméstica e de abuso sexual das filhas. No primeiro mês do ano aconteceu um outro caso em Ponta do Sol, na Madeira. Uma mulher de 55 anos, doente oncológica e desempregada, envenenou o filho de 11 anos e suicidou-se de seguida. Em 2013 aconteceram dois casos e, em 2012, outros dois. com Natália Faria

Linhas de apoio e prevenção do suicídio

SOS Voz Amiga (Lisboa)
Atendimento das 16 às 24h
21 354 45 45
91 280 26 69
96 352 46 60

Escutar - Voz de Apoio
Gaia
22 550 60 70

A Nossa Âncora
Sintra
Rua Dr. Almada Guerra,
No. 25 Portela de Sintra 2710-147
Sintra
219 105 750
219 105 755

Telefone da Amizade
Porto
22 832 35 35

SOS Telefone Amigo
Coimbra
239 72 10 10

Departamento de Psiquiatria de Braga
Braga
253 676 055

SOS Estudante
Coimbra
808 200 204

Fonte: Sociedade Portuguesa de Suicidologia

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