Morreu o ex-presidente da RTP Alberto da Ponte

Parte da sua carreira foi feita à cabeça da Central de Cervejas. Empresário tinha 64 anos.

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O mandato de Alberto da Ponte à frente da RTP terminou após uma inflamada polémica que envolveu o Governo Enric Vives-Rubio

O ex-presidente do conselho da administração da RTP e ex-presidente da Central de Cervejas Alberto da Ponte morreu, neste sábado, aos 64 anos.

A notícia da sua morte, avançada pela imprensa nas primeiras horas deste domingo e lamentada por antigos colaboradores como Hugo Andrade, ex-director de programas da RTP, no Facebook, surge depois de uma luta do empresário contra o cancro. "Uma das pessoas mais combativas que conheci", lembra Hugo Andrade, que trabalhou de perto com Alberto da Ponte. E lamenta: "Não levámos o projecto que desenhou até ao fim. A política é tramada. E as pessoas são ainda piores". 

Alberto da Ponte, licenciado em Ciências Económicas e Financeiras, foi presidente do conselho de administração da RTP entre 2012 e 2015, tendo feito parte da sua carreira anterior e recente na Sociedade Central de Cervejas (SCC) – suspendeu o seu mandato como presidente executivo da SCC, que detém marcas como a Sagres ou a Heineken em Portugal, para ocupar o cargo na estação pública. No início de 2015, retomou o mandato como administrador não executivo da Central de Cervejas, onde estivera entre 2004 e 2012, quando ocupou brevemente um cargo de gestão internacional no grupo Heineken, a que pertence a SCC. Em 1973, o empresário encetou o seu percurso profissional na então Lever (a Unilever Jerónimo Martins), ainda durante a finalização do seu curso superior. Actualmente as suas funções na SCC eram sobretudo como consultor.

Como escreveu o PÚBLICO em 2012, "Alberto da Ponte tem colada a si a imagem de gestor competitivo". Foi aliás com ele ao leme da Central de Cervejas que a Sagres ultrapassou em vendas a sua concorrente directo no sector das cervejas, a Super Bock, da Unicer. Foi presidente da Associação dos Produtores de Cerveja em Portugal e o primeiro português a liderar a organização europeia de cervejeiros The Brewers of Europe, primeiro em 2008 e depois até 2013.

O seu mandato à frente da RTP terminou após uma inflamada polémica que envolveu o Governo, tensões com o então ministro Poiares Maduro e os gastos com a aquisição de direitos de transmissão dos jogos da Liga dos Campeões. Durante a sua presidência, ocorreram vários casos, talvez o mais mediático tenha sido a demissão de Nuno Santos da direcção de informação da RTP, despedido depois por justa causa na sequência do pedido de cedência de imagens à PSP dos incidentes relacionados com a carga policial frente à Assembleia da República, em Lisboa, na noite da greve geral da CGTP, a 14 de Novembro de 2012. As partes chegariam a um acordo extrajudicial, como lembra o DN.

O seu mandato foi também marcado pelo debate em torno da potencial privatização, durante o Governo de Passos Coelho e que levou mesmo à demissão dos administradores seus antecessores, e pelos cortes de custos e conflitos laborais no âmbito de uma reestruturação da empresa pública, na sequência também de, em 2014, a RTP ter deixado de receber indemnização compensatória e ter ficado mais dependente da taxa de contribuição para o audiovisual (paga nas contas de electricidade pelos cidadãos) e das receitas da publicidade e da distribuição na televisão por subscrição. O ex-director de informação da RTP José Manuel Portugal disse na manhã deste domingo à Lusa: "Penso que a história lhe fará justiça por ter sido o homem que evitou a privatização ou a concessão do serviço público da radiotelevisão".

Foi militante do PPD/PSD entre 1974 e 1977 e ficou, como disse em entrevista ao Diário Económico em 2010, sempre "muito ligado ao PSD". Sportinguista, prosseguiu ainda a sua formação com o Curso Superior de Finanças (Harvard Business School, 1999). Era casado e não tinha filhos.   

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