Ministros temporariamente “exonerados”

Azeredo Lopes diz ter assumido a “responsabilidade política”, mas o que é que isso quer dizer? Azeredo Lopes é um homem isolado neste processo

O furto de material de guerra em Tancos é de uma gravidade sem paralelo no Exército, não podia ter sido concretizado sem cumplicidade interna, e o seu profissionalismo contrasta com a ingenuidade da vigilância e deficiente protecção dos paióis. Para nossa tranquilidade e confiança no Estado, era bom que o Exército fosse capaz de perceber e de nos explicar como é que foi possível roubar mais de uma tonelada de armamento com tanta eficácia e desfaçatez. Se a ausência de ronda durante 20 horas pode ser associada ao assalto ou se os assaltantes se aproveitaram desse facto e do conhecimento das rotinas de segurança em Tancos. Sim, como dizem os militares, o Exército foi atingido “no orgulho e prestígio”. Mais uma razão para que o Exército nos dê garantias de que é capaz de garantir a protecção do seu próprio arsenal. Sistemas de segurança avariados, torres de vigia sem vigia, rondas intermitentes, um número ridículo de efectivos destacados, tendo em linha de conta quer o tipo de material de guerra armazenado, quer o tamanho da área em questão, resultam tanto de sub-dotação como de incúria.

Os protestos dos oficiais subiram de tom e incluem a deposição das espadas à porta do Presidente da República, uma manifestação simbólica que outros militares cumpriram há cem anos, o Golpe das Espadas, e que conduziu a um mês de governo ditatorial sob o comando do general Pimenta de Castro. A indignação tem dois alvos: o chefe do Estado-Maior do Exército, que exonerou “temporariamente” cinco comandantes de Tancos e, claro está, o ministro da Defesa. A exoneração “temporária” não pára as consequências deste incidente.

Azeredo Lopes diz ter assumido a “responsabilidade política”, mas o que é que isso quer dizer? Azeredo Lopes é um homem isolado neste processo. Não faz parte nem do PS nem do círculo mais próximo de António Costa, saiu do gabinete de Rui Moreira para o Governo, não houve uma única voz em seu socorro, os oficiais já perceberam que têm espaço de manobra para vencer esta batalha contra um ministro sem peso e fragilizado. Pedrógrão e Tancos minam o orgulho e o prestígio do Estado e serão campo de batalha da oposição, particularmente para Assunção Cristas, que exigiu ontem a demissão de Azeredo Lopes e Constança Urbano de Sousa. Com António Costa de férias, é como se os dois ministros também tivessem sido exonerados “temporariamente”.

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