Mata a família e publica mensagem no Facebook a despedir-se

Mensagem terá sido publicada uma hora após o suspeito ter matado o pai, a mãe e a avó. Arma utilizada era legal.

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Os quatro corpos foram autopsiados esta sexta-feira no instituto de medicina legal, em Coimbra Paulo Pimenta (arquivo)

Um ex-emigrante português no Luxemburgo, de 41 anos, terá matado esta quinta-feira ao início da noite o pai, a mãe e a avó no lugar de Faíscas, Montemor-o-Velho, e publicado, uma hora mais tarde, uma mensagem no Facebook a despedir-se. Suicidou-se de seguida, com um tiro de caçadeira na cabeça. A arma utilizada, uma caçadeira de canos sobrepostos, era legal, estando licenciada para a prática da caça.

Na mensagem, o homem agradece, de forma irónica, ao sindicato luxemburguês OGBL, que acusa de corrupção. “Não aguentei mais... peço desculpa aos de mais...(sic) senti-me envergonhado e sem apoio... a pior situação de um ser humano...”, escreveu no Facebook, antes de se matar. A mensagem termina de forma enigmática com a frase: “As secretas da UE são da pior espécie!!!”

A Polícia Judiciária, que está a investigar o caso, acredita que a família foi morta entre as 19h30 e as 20h. O post foi publicado já depois das 21h. De seguida, o homem colocou a caçadeira entre as pernas e disparou sobre a cabeça. Foi assim que as autoridades o encontraram, com a cabeça parcialmente desfeita. As autópsias dos quatro corpos foram realizadas esta sexta-feira no Instituto Nacional de Medicina Legal, em Coimbra.

O suspeito, Paulo da Cruz, terá regressado a Portugal há cerca de um ano, após ter perdido o emprego no Luxemburgo. Desde então vivia com os pais e com a avó em Montemor-o-Velho, no distrito de Coimbra. Sofreria de depressão, mas era considerado um homem equilibrado e calmo.

Esta quinta-feira, a família organizara um lanche-ajantarado para outros familiares e amigos. Mas, durante a refeição, Paulo da Cruz começou uma discussão, que rapidamente subiu de tom. “Ele virou a mesa ao contrário, partiu um espelho e depois foi buscar a caçadeira”, descreve uma fonte da PJ ligada à investigação. Alguns familiares ainda tentaram acalmá-lo, mas quando o viram disparar sobre o próprio pai decidiram fugir. “Foi uma erupção de violência inusitada”, resume a mesma fonte.

Segundo José Gonçalves, um familiar que havia sido convidado com a mulher e a filha de oito anos para o jantar em casa dos pais do alegado homicida, a mãe terá recordado um episódio de infância que desagradou a Paulo da Cruz.

“A balbúrdia começou quando a mãe do Paulo contou que ele, quando era criança, degolou cinco pintainhos com uma lâmina”, contou José Gonçalves à agência Lusa. “Começou então uma enorme discussão e o Paulo, depois de várias discussões com o pai e de lhe ter dado uma cabeçada, terá ido ao quarto buscar a caçadeira”, explicou o familiar. Depois de ter visto o suspeito a disparar contra o pai, José Gonçalves fugiu para sua casa com a mulher e a filha e "não soube de mais nada".

Os disparos e a gritaria levaram os vizinhos a alertar as autoridades, PJ incluída, que, por volta das 22h, já cercavam a casa. Não havia a certeza se o suspeito se tinha barricado sozinho ou se tinham mais alguém consigo. Por isso, as autoridades preferiram ser cautelosas e esperar. Após várias horas de silêncio, por volta das 5h da manhã desta sexta-feira, as forças de segurança cortaram a energia eléctrica e conseguiram entrar no local do crime. Cerca de dez minutos depois, confirmaram as quatro mortes.

“Sabe-se que o indivíduo estaria a sofrer de problemas de depressão, mas não tem histórico de violência doméstica. Era de todo imprevisível", afirmou João Paulo Seguro, do Comando Territorial de Coimbra da GNR.

Autarquia disponibiliza ajuda à família

A autarquia e o centro de saúde local estão a colaborar para apoiar os familiares do pai, mãe e avó do alegado homicida, com 70, 64 e 91 anos. "Estamos a acompanhar as irmãs [do alegado homicida] e outros familiares, porque são pessoas que estão deslocadas, estão no estrangeiro, são emigrantes, e precisam de apoio e de aconselhamento", disse o presidente da Câmara de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão. O autarca adiantou que a câmara disponibilizou uma psicóloga e que também o centro de saúde está a acompanhar os familiares com um segundo psicólogo e uma enfermeira, escreve a agência Lusa.

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