É uma agenda como todas as outras, com a diferença de que está recheada com as memórias mais marcantes de 12 personalidades, incluindo o próprio Presidente da República. O ano de 2017 arranca com Marcelo Rebelo de Sousa, que evoca as duas vezes em que, aos seis anos, a mãe, que era assistente social e acompanhava crianças com deficiência, o levou ao Casal Ventoso, antigo bairro de lata encalhado entre Campo de Ourique e a Avenida de Ceuta, em Lisboa. “Recordo-me bem do que me impressionaram as crianças, as barracas, a falta de água e de esgotos”, descreve o Presidente da República.

É também Marcelo Rebelo de Sousa quem vai apresentar esta quarta-feira a agenda para 2017 do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, no anfiteatro da instituição. Mas há mais 11 histórias, tantas quanto os meses que faltam para completar um ano. Como a do patologista Manuel Sobrinho Simões que regressa até ao dia da morte de Brígida, empregada e governanta da sua família, no Bombarral. “Brígida morreu em casa, com os seus. E quando a medicina esgota a sua capacidade, esta é a solução mais confortante”, enfatiza o investigador habituado a lidar com o cancro e que se recorda de "ter chorado, agarrado" à avó, no dia do enterro.

As verbas angariadas com a venda da agenda vão ser usadas para comprar equipamentos e remodelar instalações do serviço de Pediatria, onde são tratadas e acompanhadas anualmente cerca de 400 crianças e adolescentes com cancro. Equipamentos que vão servir para atenuar o sofrimento destas crianças. Como, por exemplo, um visualizador de veias que evitará que os doentes com veias difíceis de encontrar sejam picados várias vezes.

Editada pela Livros Horizonte e já à venda nas livrarias e em algumas papelarias por 13,90 euros,  a agenda inclui ainda as memórias mais marcantes de mais dez personalidades - Catarina Furtado, Nuno Markl, Afonso Cruz, Clara de Sousa, Margarida Pinto Correia, Boss AC, Victoria Guerra, Marisa Matias, Elvira Fortunato e Sandra Correia.

A eurodeputada Marisa Matias optou por recuar até ao dia em que viu chegar os pais com o irmão ao colo. Tinha três anos: “A minha primeira memória é de uma chegada. De um encontro. Um encontro para a vida. O dia em que chegou o meu irmão. O meu menino. Até hoje.”

É mais uma iniciativa do IPO de Lisboa para angariação de donativos para o serviço de Pediatria, o único centro oncológico infantil do Sul do país e centro de referência nacional para o cancro pediátrico. Criado há 46 anos, o serviço de Pediatria do IPO de Lisboa recebe crianças e adolescentes não apenas de Lisboa e Vale do Tejo, mas também do Alentejo, Algarve, Madeira e Açores e dos PALOP (países africanos de língua oficial portuguesa).