Mal agradecidos

A inveja é útil de mais para os invejosos. A vida beneficia o rancor recompensado.

A primeira raiva é a injustiça. Dá-nos cabo do coração ver alguém que se portou bem ser maltratado. O abuso e a ingratidão são amigos íntimos.

Na vida do meu pai e nos romances de Penelope Fitzgerald aprendi a mais horrenda e verdadeira lição da vida: se ajudares alguém, prepara-te para seres atraiçoado.

As pessoas esquecem e perdoam tudo menos um favor. Um favor - na cabeça pequena de quem está sempre à procura de ser ajudado - cria uma dívida que se julga, injustamente, impossível de pagar. É mais fácil - vale mais, nos termos grosseiramente monetários em que esta gentinha medíocre pensa - traír quem nos ajudou, para acabar com a boa vontade que levou a que nos ajudassem.

Penelope Fitzgerald passou a vida a complicar a facilidade idiota mas engraçada do "no good deed goes unpunished". Ser-se bom é mesmo a única satisfação de se ser bom. Nem sequer Deus tem razão. Mal se é bom começa-se a pagar o castigo da bondade.

Para mais quem é bom nunca espera ser recompensado. É mesmo verdade que ser bom é bom para quem é. Mesmo assim, depois dessa recompensa confidencial e auto-gerada, não se espera, como castigo inteiramente imerecido, ser-se castigado.

Em todos os dias da minha vida dói-me ver as pessoas generosas, inteligentes e abertas que são exploradas para satisfazer as ambições de merda de quem odeia o azar de ter nascido medíocre e ineficaz.

A inveja é útil de mais para os invejosos. A vida beneficia o rancor recompensado.

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